domingo, 16 de março de 2014

 


CONVERSA COM

VÔ PEDREIROS
(Oliveiros)
Para minha filha Marina

Dez da noite.
Lá fora, a cidade parada. Lá longe, um latido. Um outro cão  parece que responde. E começam uma  sinfonia canina.
A janela aberta para arejar. Noite calorenta.
Escuto uma vozinha . Estou certo: vem do quarto em frente ao meu.
- Escuta!!!
- O que????
- Escuta!!!!!
- É a voz da Marina???
- Éééé!!!
- O que é que ela tá falando???
- Não sei. Parece que tá conversando com alguém!!
- Pera aí!!!! Ó!!! Eu acho que escutei ela falar “ vovô”...
- Será que ela tá sonhando????
- Não sei. Escuta.... Ela falou “obrigado”...
 Eu me levanto. Atravesso o corredor e olho pela fresta da porta.  Marina sentada na cama. Olha fixamente para a parede acima do guarda-roupa.
Ela acena.
- Tchau . Ela diz
- Bença. E joga um beijo para a parede.
Eu entro no quarto. Ela ainda sentada na cama sorri feliz. Estende os bracinhos pra mim e deita.
- O que foi, Nininha!!!!  Tava sonhando?
- Não, pai. Eu tava conversando com o Vô Pedreiros.
- Conversando o que?
- Ele  falou que me ama. E falou também que sou muito bonita. E eu falei “ brigado” igual você me ensinou.
- E onde estava o Vovô Pedreiros?
- Tava alí, bem em cima do guarda- roupa.
- Fazendo o que?
- Uai!! Tava conversando comigo. Ele e  o outro homem.
- Que homem!
- O que tava de roupa branca igual a do vô Pedreiros.
- E pra onde ele foi?
- Voltou pro céu.
- Então, dorme, minha filha.
- Bença, pai.
- Deus te abençoe. Dorme com Deus, meu amor.
Apago a luz.
Ela dorme feliz..
E eu... bem...  Eu..
Não sei.