quinta-feira, 30 de agosto de 2012

UM CONTO DO ESCRITOR PALMENSE VICTOR HUGO DO CARMO


Hoje, tenho a honra e o prazer de dividir com você, leitor deste blog, um conto do palmense Victor Hugo do Carmo
UM TESTEMUNHO CEM ANOS DEPOIS                 


Aquele lugarejo: o “Curato da Freguesia de Santa Rita da Meia-pataca”, ao fim do século XVIII, além das duas ruas existentes, tinha apenas caminhos poeirentos e lamacentos, por onde passavam as tropas de burros e mulas em demanda aos Campos dos Cataguazes, vindas do litoral.
 Quando eu nasci, no século XIX, a Vila já era consagrada a São Francisco de Assis e passara a se chamar Vila do Capivara  nome do riacho que divide o lugar, em duas partes: uma alta onde se ergueu depois a Matriz  e a parte baixa beirando o ribeirão.
  Eu tenho plena consciência de que contar estórias após ter falecido é um recurso usual dos escritores e além dos grandes como Machado de Assis, muitos já usaram esse recurso.  Não pretendo, portanto, inovar.  Em vida tive vontade de escrever parte do que ora passo a narrar, mas os meus afazeres e, talvez, também a pouca habilidade no manejo da língua me impediram.   Agora, aqui onde estou, fico mais a vontade e as críticas que poderão surgir não podem mais me atingir.
Quando eu morri, foi no dia 12 de outubro de 1912, fui enterrado no Cemitério do Mato Dentro, no alto da Igreja.  A Vila, então, já se tornara cidade por decreto real de 1871, na época do Segundo Império.  Sobrevivi nos tempos iniciais da República.     Pouca gente soube como ocorreu a minha morte e não é difícil saber o por quê.    Fui vítima de um tiro de garrucha que não era endereçado a mim e que, por minha falta de sorte, ricocheteou num poste varou meu peito e atingiu o meu coração.
   Isto foi em 1912 – fazendo agora o centenário - ano fatídico para a Vila do Capivara.  No início de outubro daquele ano ocorreu o assassinato do Coronel De Araújo, fato  que ocupou a  atenção da cidade e a minha morte   foi ignorada naquele dia e só foi sentida por alguns  dias após quando parentes me foram buscar, cadáver abandonado na morgue do Cemitério do Mato Dentro.
Lastimável, pois, por ironia, fui confundido como um dos capangas do Coronel.  Por desgraça, ainda maior, eu era desafeto do homem e estava preso na cadeia pública por ordem dele.  Nunca soube e até hoje não sei qual foi a razão principal que ele teve ou alegou para me meter na cadeia. Daqui, do mundo eterno onde me encontro, posso me lembrar que eu não concordava com o Coronel - irremovível chefe político - e com a violência que ele disseminava, não só na Vila do Capivara como em toda região; até mesmo no vizinho Estado do Rio.
  Aliás, quero ser bem sincero, não vale mentir e iludir-se. Eu me atrevia, sim, a contestar o velho Coronel.   Soube, então, que ele mandara me matar por um dos seus capangas.  O homem escalado para fazer o serviço era um tal de  Joviano Silva,  um negão  que me devia alguns favores e morara,  numa  casa na Fazenda do Degredo do meu avô.  Ele gostava muito da minha família e convenceu o Coronel a modificar a minha pena de morte pela de prisão. Coisa que, como se verá adiante, pouco adiantou.
Na manhã do dia em que a tropa dos chamados Justiceiros invadiu a Vila um raio de esperança penetrou pelas grades da cadeia. Eu estava preso havia mais de um ano e já me habituara ao convívio dos outros presos; a maioria, como eu, estava ali por ordem do velho Coronel que da sede da Fazenda da Divisa comandava tudo.  Tinha até fazendeiro preso, porém a maior parte era de gente humilde.
Antes de prosseguir nestas lembranças devo esclarecer que uma das maiores lutas políticas que tive foi em prol da educação na cidade. Ora, eu aprendera a ler na sala de visitas da Dona Nenzinha, professora, então velinha, que viera da Vila de São Felix e morava no alto da Igreja Matriz, pois não havia na cidade, ainda, uma escola, primária que fosse.  Quando o Grupo Escolar foi erguido, por subscrição do povo da Vila, num areal perto da Praça da Prefeitura eu já havia morrido. Pode ser que o fato de me meter nesse assunto seria o meu pecado; sei lá! Não quero atribuir ao Coronel culpa de algo que ele não teve. De qualquer forma nunca me constou que ele se manifestasse sobre a questão do ensino e, mesmo alguma simpatia por mim. A nossa cidade de Palma naquela  à época era um mar de analfabetismo; somente os filhos dos fazendeiros e alguns ricos – analfabetos - alfabetizavam seus filhos. 

 De dentro da cadeia naquela manhã fatídica assistimos, eu e os outros detentos, através das grades nuas, a tropa dos Justiceiros penetrar na Praça da Prefeitura.  Houve resistência pouca, mas o tiroteio foi grande e era gente a correr em direção da estrada que vai para Cisneiros, e a procurar abrigo, correndo para a estação ferroviária, onde as ligações telegráficas haviam sido cortadas como se soube depois.  As janelas e portas das casas que rodeiam a Praça da Prefeitura estavam trancadas, nenhum morador mostrava sua cara.      Naquele momento a fumaça de pólvora fez escurecer o largo e das grades onde eu estava mal se via o coreto ao centro.  Era ainda manhã e a cavalaria tomara conta da cidade, da  praça e do seu entorno.
A primeira sensação que tive foi de alívio: alguém viria nos soltar; todos presos pensaram da mesma forma e chegamos a nos abraçar em comemoração à liberdade que parecia iminente.
Fora das celas, entre os presos tidos como especiais, estavam também o sacristão Ambrósio Pena - conhecido na Vila com o     “ o Caolha” e o antigo Promotor de Justiça – Dr. Coriolano - que se atrevera a pedir ao Juiz de Direito  a prisão de um capanga do Coronel que armara confusão na rua de baixo.   Por eles e para nós a libertação parecia estar próxima, principalmente quando vieram a ocupar a celas vizinhas alguns asseclas do Coronel que perambulavam pela Vila a fazer arruaças e amedrontar aquela gente pacata. Muitos deles, diga-se de passagem, nem chegaram a ser presos foram mortos pelas ruas pelos invasores juntamente com parentes e amigos do Chefão. 
 À tarde daquele mesmo dia penetraram na cadeia, cumprindo ordem dos chefes invasores: o Juiz de Direito, Dr. Nicanor Alves, o Vigário, Padre Bruno e um Oficial de Justiça Sílvio Frias, meu parente distante. Nas mãos o magistrado trazia alvarás de soltura para todos aqueles, cujos nomes ele ia preenchendo a mão, no papel escrito do Cartório e, assinando, os entregava ao Sílvio para identificar o beneficiário.  
Meus parentes mais próximos tinham fugido para o Estado vizinho, para se livrar das ameaças do Coronel. Estava ali praticamente sozinho e ignorado.
Saímos sob escolta dos Justiceiros, fomos nos dirigindo para a  rua, atravessando o grande portão de ferro da cadeia.  No coreto que hoje ainda lá está no centro da praça em frente da Prefeitura, os invasores já tinham depositado, envolto em um lençol ensangüentado, o corpo mutilado do velho Coronel.  Além dos invasores – que estranhamente comemoravam  atirando para os céus, como se o estampido das armas fora fogos de artifícios, pouca gente mais havia por ali.
Nos dispersamos ordenadamente.      Eu me dirigia para a Ladeira e pretendia ir para o Alto da Igreja onde morava.  Do caminho, que depois veio a ser chamado Rua do Dó – apelido de um dos filhos do Coronel que sobreviveu – veio o tropel de capangas do chefe assassinado num último esforço para expulsar os invasores que em desabalada carreira sumiam em direção a Miracema, deixando pó na estrada. No entrevero final, o tiroteio recrudesceu e um tiro me atingiu em ricochete.  Morri ali mesmo. 
Tive um lapso de memória daquilo que se seguiu no percurso até chegar aqui onde ora estou.  Como soe ser, daqui me foi dado acompanhar até o final, a exumação do cadáver mutilado do velho chefe político e seu enterro no mesmo Cemitério do Mato Dentro em que me jogaram numa cova rasa.
A minha vida foi como a de qualquer um homem da nossa região e naquele tempo.  Se me pedirem um testemunho sobre o acontecido que presencie há cem anos: eu lhes digo – agora sem qualquer receio – que a tragédia se tornara inevitável.  O velho Coronel exagerara, enveredando-se pelo crime, submetendo a Vila de Palma a um terror insuportável.  Teria feito algo bom para a velha cidade? Se fez, isto ficou eclipsado pela violência e pelo crime.
A verdade histórica não se suprime pela vontade dos que sobrevivem nem para aqueles que, como eu, já alcançou o estágio diáfano em que me encontro.
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VHCarmo.
Texto ficcional escrito na oportunidade do centenário do assassinato do Coronel Firmo de Araújo. 

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

ÁGUA MINERAL SÃO GERALDO

Água Natural São Geraldo
Água mineral natural, engarrafada
e comercializada em Palma - Minas Gerais,
nas décadas de 1950 e 1960,
devidamente analisada e registrada no
Ministério das Minas e Energia, com
o número 14.631, em 15 de maio de 1957.
A fonte da água São Geraldo  pertencia 
ao Sr. Sebastião Geraldo ( Sebstião Rodrigues Gomes)
 e o sítio onde estava localizada a mina
ficava próximo à Fazenda da Celeste, 
entre a cidade de Palma e o distrito de Cisneiros.
Embora esteja desativada, a mina ainda existe.

(Rótulo das Água Natural São Geraldo,
gentilmente cedida por Cléria,
neta do Sr. Sebastião Geraldo)

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

THALES E YANE - ESSE BRONZE VALE OURO


MENSAGEM RECEBIDA PELO FACEBOOK
Tio Beto, essa foto nenhum jornalista tem. Foto da galeria de medalhistas, aqui dentro do 
prédio do Brasil ! 
Coincidência a medalhísta da foto na parede, também estava bem na minha frente !