sábado, 26 de setembro de 2009

JORNAIS DE PALMA















































JORNAIS DE PALMA




CORREIO DE PALMA
edição de 06 de agosto de 1893
A ORDEM
órgão oficial de Câmara Municipal de Palma
edição de 21 de maio de 1920
LA VAE BALA
edição de 07 de setembro de 1930
A REFORMA
edição de 18 de maio de 1930
O RÁDIO
edição de 31 de dezembro de 1939
A VOZ DE PALMA
edição de 25 de setembro de 1932
A NOTÍCIA
edição de 27 de junho de 1926
A DEFESA
edição de 13 de novembro de 1941
O TIRADENTES
edição de 07 de setembro de 1939
CORREIO DA REGIÃO
edição de agosto de 2001


CORONEL FIRMO DE ARAUJO

Ata de Sessão Solene da
Câmara Municipal de Palma,
de 1° de junho de 1912,
quando o Coronel Firmo de Araújo
tomou posse, pela última vez,
como Presidente da Casa.
Assinatura do Coronel, no livro de atas
da Câmara Municipal de Palma, na última sessão
presidida por ele,
em 05 de junho de 1912.
Ata da Câmara Municipal de Palma,
de 18 de julho de 1912,
que deu posse ao vice-presidente da Casa,
Coronel Manoel Alípio de Andrade,
por motivo do assassinato do Presidente,
Coronel Firmo,
ocorrido no dia 07 de julho de 1912,
conforme relatado no trecho reproduzido acima.
..." pediu a palavra o Snr. Vereador
Major José da Silveira Barbosa, e
requereu ao Snr. Presidente se inserisse na acta dos trabalhos
d'esta Casa, um voto de profundo pezar pela desastrada
morte do extincto Presidente d'esta
Câmara , Cel. Firmo de Araújo Pereira.
(Ata de 16 de agosto de 1912)
Foto exposta no prédio da
Prefeitura Municipal de Palma,
em homenagem ao Coronel,
com a seguinte inscrição:
AO CORONEL FIRMO DE ARAUJO PEREIRA
ESTA PROVA DE VENERAÇÃO PÚBLICA.
PALMA, 01/06/1910

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

PROCISSÃO DO SANTÍSSIMO

Procissão do Santíssimo,
na década de 1930.
Padre Antôno Ávila do Carmo
Entre as crianças: Leda Andrade de Paula,
Terezinha Campos Ribeiro.
Os meninos: Renato Pellagi (na frente) seguido por
Nege Abdalla, e Juarez Amaral (penúltimo).
Sustentando o pálio:
na frente: Antonino Barbosa de Castro e Neca do Pouso Alto.
no meio:José Barbosa do Amaral e Thales Barbosa Pinheiro.
(quem souber identificar as outras pessoas da foto,
favor acrescentar)

sábado, 19 de setembro de 2009

QUEM TEM MAIS DE CINQUENTA AÍ???

Anúncios dos cigarros Luiz XV e ANTISARDINA, na Revista do Rádio ,
edição de 14 de janeiro de 1961













Quem tem mais de 50, com certeza já teve um terninho marinheiro ,uma calça saint tropez, já se fantasiou de tirolesa ou de pirata,ou já foi a algum baile nos tempos da jovem guarda com camisa de fru-fru ou calça com boca de sino e sapato com salto carrapeta.
Quem, com mais de 50 anos, nunca dançou Perfume de Gardênia, Perfídia, La Barca, de um long play da gravadora Odeon, Copacabana ou RCA Victor, rodando numa eletrola ou numa radio vitrola, num clube de cidade de interior, nas vozes de Bienvenido Granda e Lucho Gatica?
Quem tem hoje mais de 50 anos e não conheceu ou fez pose, tendo nas mão um cigarro Lincoln, Kent, Beverly ou Luiz XV?
Você, que tem mais de 50 , certamente já usou Brilhantina Glostora , Royal ou até mesmo Gumex, que deixava o cabelo super-armado Pode também já ter usado Óleo de Ovo, Óleo de lavanda Bourbon ou Óleo Dirce.
Quem, com mais de 50, não dormiu uma noite num colchão daqueles estampados, todo costurado com barbante, em cima de uma cama Patente? E , de manhã, acordou com prisão de ventre e não tenha tomado Leite de magnésia de Philips ou Óleo de Rícino?
Quem, com mais de 50 anos, não se lembra das quermesses com serviço de alto-falante e oferecimento de músicas, que não tenha oferecido uma musiquinha com o seguinte texto: alguém oferece pra alguém como prova de muito amor e carinho, e esse alguém deve saber quem?
Você, com 50 anos ou mais deve se lembrar das missas que o padre celebrava de costas para o povo, falando em latim, auxiliado por coroinhas vestidos com batinas, acompanhado pelas crianças da cruzada eucarística infantil, pelas filhas de Maria, pelos congregados marianos, pelas senhoras do Apostolado da Oração . E, se fosse numa missa de sétimo dia ou de mês por algum finado, certamente as mulheres estariam de preto e os homens com uma tira de tecido preto , chamada fumo, pregado no bolso da camisa, na lapela do paletó ou na manga. E não podemos nos esquecer que todas as mulheres usavam véus: as mocinhas virgens usavam véus brancos e as casadas ou viúvas, véus pretos.
Quem, homem com mais de 50 anos, não se levantou um dia pela manhã e não escovou os dentes com Creme Dental Eucalol, penteou os cabelos com pente Flamengo e fez a barba com lâmina gillete?. Depois, com certeza, passou Acua Velva, e vestiu uma camisa de Volta ao Mundo para sair.
Quem, que hoje tem mais de 50, não tomou Cibalena para dor de cabeça, não usou emplastro sabiá para dor nas costas. Certamente tomou banho com sabonete lifeboy ou gessy, usou creme Ponds, passou um talco cashmere Bouquet, fez uso de antisardina (cantando: número um, número dois, número três) e tomou as famosas Pílulas de Vida do Dr. Ross.
Quem, com mais de 50, não se lembra da empregada ou de nossa mãe ou de nossa irmã lustrando os móveis com Óleo de Peroba? E depois de encerar a casa com Cera Parquetina, dar brilho no assoalho com um escovão e colocar as roupas sujas de molho.
Quem, com mais de 50, não se lembra das roupas lavadas com sabão Campeiro ou Sabão em Pó Rinso? Se fossem brancas , a lavagem seria finalizada com uma pedrinha de Anil.
Quem, com mais de 50, nunca viu um pau de sebo numa festa junina?
Se você tem mais de 50, certamente já se encantou por algum trapezista ou por uma rumbeira de circo. Também é certo que já assistiu, no picadeiro ou no palco de um circo, o drama da Paixão de Cristo, O Céu uniu dois corações ou O Ébrio. Mais certo ainda é que chorou.
Quem, com mais de 50, não se lembra da mãe abanando o fogo do fogão a lenha com um pedaço de papelão ou com a tampa de uma panela.. Depois soprava o fogo e varria as cinzas para dentro do fogão com um pedaço de vassoura velha.
Quem, que hoje tem mais de 50, não se lembra do Toddy em lata? Aposto com também já apertou uma latinha de Neocid para matar pulgas.
Quem pode dizer que nunca usou um sapato fox ou Clark com aquela chapinha de metal na ponta e no salto e que, quando chovia, não cobria os sapatos com uma galocha?

Quem, com mais de 50, não tenha uma lembrança a mais do que estas que contei para acrescentar com um comentário divertido?

Palma, 18 de setembro de 2009.





Foto 1 - Cruzada Eucarística Infantil - década de 1950 ( com Frater Ildeu)


Foto 2 - Filhas de Maria - década de 1950 (com Padre Henrique Hesse)


Foto 3 - congregados Marianos - década de 1950 (com Padre Henrique Hesse)


quinta-feira, 17 de setembro de 2009

NO TEMPO EM QUE MIDIA ERA SOMENTE " MEIO DE COMUNICAÇÃO"


Quero deixar que minhas lembranças venham livres
Não quero me preocupar com datas, nem com a ordem cronológica dos fatos. Quero somente recordar e fazer com que as pessoas que vierem a ler este texto, revivam, como eu vou fazer agora, os bons tempos, sem internet, sem vídeo games.
O rádio e a TV eram companheiros de algumas horas do dia. Serviam de rumo para as conversas que tínhamos quando nos encontrávamos. Conversas de amigos, bate-papo de namorados. Sem essa de ter vergonha de assistir a determinados seriados ou programas. Tudo era permitido. Crianças e adolescentes se encontravam em frente à TV. Famílias se reuniam em torno do rádio para escutar as novelas da Rádio Nacional.
Jerôniimo, o herói do sertão, O anjo, O Cavaleiro da noite mexiam com nossa imaginação nos inícios de noite da Rádio Nacional. Como não existia a imagem, nossa imaginação é que dava o tom . A sonoplastia nos fazia viajar no meio de temporais, no arreio de um cavalo ligeiro, num carro que corria por uma estrada. Quase nos escondíamos debaixo da mesa quando ouvíamos o bem feito barulho de um trovão. Como hoje identificamos um ator ou atriz pela imagem, naquela época sabíamos bem quem era somente pela voz.
E a voz que nos conquistava era a do Luiz de Carvalho, nas manhãs na Rádio Globo, quando, desejando, saúde, paz e amor, comandava o Programa Luiz de Carvalho.
Porém, quando ouvíamos os primeiros acordes do Concerto número 1 para piano e orquestra de Tchaikovsky, já sabíamos que o programa Haroldo de Andrade estava começando
A Rádio Tupi de São Paulo tinha o Barros de Alencar que, em meio aos sucessos brasileiros, intercalava suas gravações.
À tarde, na Rádio Globo escutávamos os sucessos apresentados por Roberto Muniz. As músicas eram colocadas em votação e, no Peça Bis ao Muniz, as mais votadas eram tocadas outra vez para nosso deleite.
E o Júlio Louzada? Quando caía a tarde, com a leitura da oração da Ave Maria e ao som da Ave Maria de Gunot, interrompíamos nossas brincadeiras, mamãe parava seus afazeres, papai até se ajoelhava. Julio Louzada era o companheiro obrigatório em nossa casa na hora do ângelus. Logo em seguida, ele começava a dar conselhos no programa que eu acho que se chamava “Pausa para Meditação”.
Era nesse momento que a criançada mais ficava ansiosa. Torcia para acabar a pausa para começar a ouvir as aventuras do Jerônimo ou do Anjo.
Nossos pais também acompanhavam as aventuras mas queriam mesmo era ouvir o Heron Domingues, no Repórter Esso, que depois passou a ser apresentado na TV. Gontijo Teodoro era quem nos dava o “boa noite”do alô, alô, Repórter Esso.
Mas a TV era muito mais do que o noticiário. Era a musa Neide Aparecida estalando os dedos e anunciando “To-ne-lux!”
A televisão era um luxo que nem todos podiam ter. A casa da vizinha era nossa sala de estar. E as televiszinhas eram nossos aparelhos. As janelas ficavam apinhadas de gente até a hora em que o dono da casa pedia desculpas e licença, pois estava na hora de dormir e ia desligar a TV e fechar as janelas.
Os aparelhos de rádio cobertos com toalhinhas de crochê, competiam com os pingüins em cima das geladeiras frigidaire ou hotpoint, na maioria das vezes ocupando lugar de destaque nas copas e salas de jantar.
Num canto, as enceradeiras com três escovas, vestidas com uma capa de “matéria plástica” enfeitada com laços e pregas, mantinham por muito tempo o perfume da cera que as empregadas passavam em toda a casa, esperavam secar, passavam as escovas da enceradeira e depois , com um escovão por cima de um pedaço de cobertor velho, davam brilho no assoalho até que ficasse como um espelho.
Ladeando as passadeiras de borracha, colocavam-se folhas de jornal para que ninguém deixasse marcas de pés e pegadas nos cantos por onde passasse.
No banheiro, cheirinho de sabonete eucalol. Escovas de dente, melhor só a TEK. Creme dental, tinha que ser Kolynos. (Ah!!!!!) Nos cabelos shampoo milk da Niasi era o melhor. Perfumes, só mesmo da Mirurgia. E as perucas Lady??? Outra vez, a Neide Aparecida.
Na TV, Neide ainda apresentava o Neide no país das maravilhas. Tinha também o teatrinho trol, onde Paulo Autran, Marília Pêra e muitos outros grandes também atuavam.
Jota Silvestre apresentava O Céu é o Limite. Eu me lembro bem da Micheline que respondia sobre o Egito e da noivinha da Pavuna. Como a gente torcia para que ninguém errasse as respostas!!!
No sábado era a vez de Bonanza, com a Família Cartwright defendendo a ordem e os bons costumes.
Depois, nos domingos, t]acompanhávamos o Homem de Virgínia,
Quando recomeçava a semana, a meninada esperava ansiosa:
- Alô, alô, Sumaré. Alô, alô, Embratel.Alô, Intelsat Quatro. Alô criançada do meu Brasil. Aqui quem fala é o Capitão Aza, comandante e chefe das forças armadas infantis do Brasil.
Com óculos escuros, capacete com um “A “ com asas, muitas medalhas no peito da farda, Capitão Aza aparecia cantando uma musiquinha que falava: “pela trilha da esperança eu vou cantando o amor e a paz, eu vou cantando o amor e a paz”.
Era tempo da ditadura militar. Mas , para a criançada que assistia a TV era divertido.
Ajudado por uma garotinha chamada Martinha e por um boneco a quem chamava Pedroca, Capitão Aza animava nossas tardes na TV Tupi com desenhos animados onde a violência não tinha vez.
Quando não era o Capião Aza, Tia Cidinha ,ou Tia Iara, comandava o Pullman Junior, duas vezes por semana no fim das tardes da extinta TV Rio. Enquanto a meninada comia bolos Pullman nos estúdios, Tia Cidinha fazia algumas brincadeiras, auxiliada pelos palhaços Torresmo e Pururuca,para depois a gente, em casa, assistir a muitos desenhos. Ainda não existia a novela das seis.
Também era muito emocionante acompanhar “Perdidos no espaço” com as aventuras da família Robinson vagando pelo espaço, enfrentando muitos perigos, seres de outros planetas e de outras galáxias, aterrissando em planetas cada vez mais distantes e diferentes da terra, cheios de monstros. Quando conseguiam fazer a nave funcionar, e já estavam quase voltando para a terra, acontecia outro imprevisto, outra pane e tudo voltava a ser como antes. E novos perigos eram enfrentados.
E as Aventruas Submarinas” com Mike Nelson, um oficial da marinha, vivido por Lloyd Bridges? Todos os dias era uma nova aventura e uma mensagem ecológica, sobre os oceanos, numa época em que a poluição e o efeito estufa ainda não eram tão evidentes.
Falando nisso, a gente se lembra também de “ Viagem ao fundo do mar,” a bordo do submarino Seaview, comandado pelo Almirante Nelson. A tripulação também viveu grandes e perigosas aventuras e nós, meninos e meninas da época, nos embrenhávamos até o mais profundo dos oceanos. Era nossa fantasia que nos levava a viajar mais e mais.
Enquanto isso, Roberto Carlos já comandava a Jovem Guarda, Flávio Cavalcante fazia o calouro tremer com seu corpo de jurados, formado por José Fernandes, Mister Eco, Sergio Bittencourt, Nelson Mota, Marisa Urban, Márcia de Windsor, dentre outros. Chacrinha comandava a massa e buzinava a moça. “Quem quer bacalhau?”gritava para a platéia que se acotovelava para ver Jerry Adriane , Wanderley Cardoso, Ronie Von , Nalva Aguiar, Leno e Lilian, Renato e Seus Blue Caps, e muitos outros.
Blota Junior brincava com cantores e compositores no”Essa Noite se Improvisa”.
Zorro, de capa e espada e Zorro do oeste americano eram atrações. Jim das Selvas e Daniel Boone levavam nossas fantasias para a Ásia e para o interior da América do Norte, National Kid era o nosso mais emocionante super-herói. Ele voava. Como voava também a nossa imaginação.
Há muito mais para recordar, mas fica para uma outra vez.
O coração está apertado de saudade. Mas muito feliz por saber que já presenciou tanta coisa boa , tanta coisa tão simples, mas que proporcionou muitas e grandes felicidades.
Dá até para contrariar o compositor:
Eu era feliz e sabia.

Palma, 16 de setembro de 2009.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

ZÉ DO VÉIO E SEUS CAUSOS



Zé do Véio tem sempre uma historinha, um causo, em que ele mesmo é o personagem principal. Na sua humildade , nem se preocupa se é herói ou palhaço, se o acontecido é para enaltecê-lo ou se irá ridicularizá-lo. A gente só sabe que Zé do Veio conta tudo o que lhe acontece.
Dia desses, Zé do Veio apareceu lá pros lados de um sítio perto da Parada da Celeste. Chegou pertinho do curral, onde o retireiro terminava de encher as latas de leite, sob o olhar atento do Seu Oliveiros. Zé foi chegando e logo puxando assunto. Desfiou um fuminho de rolo, cortou um pedaço de palha, enrolou um cigarro , puxou uma tragada e em seguida soltou uma baforada de fumaça que empesteou o ar do curral, antes só perfumado pelo monte de esterco juntado do lado de fora.
Conversa vai, conversa vem, Zé do Veio saiu com mais uma:
- Óia Sô Livero. To que num me agüento de raiva e de rependimento. Se eu subesse que ia dá no que deu, num tinha feito negócio cum César. Sabe, Sô Livero, aquele cavalim que eu tinha e que arriava todo dia na charrete pra ir lá na rua levá as roupa que a Dagmá lava pra Dona Odete e pra Dona Isabel. Pois é. Num é que o danado do César me deu uma manta danada!! E que rependimento!!!! Como dói!!! E só hoje é que eu vejo que meu cavalim era bom demais. O safado do César me convenceu a trocar minha charrete por uma bicicleta.. Na hora até achei que era bom. Mas quando foi de noite, e que eu tinha que vortá pra casa, foi que eu vi que o cavalo era muito melhor. Ele me trazia direitim pra casa. Vinha retim pro sitio. Eu nem precisava oiá pra donde ele tava me levando.A danada da bicicleta num fez isso não. Eu toquei os pedar do jeito que o César falô. Iquilibrei direitim. Toquei em frente. E a fia duma égua da bicicleta me jogou im cima da cerca de arame farpado. Hoje eu to aqui todo estropiado, arranhado e cum a bicicleta quebrada.
-Mas você gosta de fazer negócio ruim, né Zé do Veio? Olha o que aconteceu quando você comprou aquela égua do Quinca!
- Bem que ele falou ! Eu é que num prestei atenção direito.Quando a gente foi fazê o negócio eu perguntei porque o animal tava tão barato. Ele me falô que a égua tava cum defeitozinho. Éééé. O danado me inganô direitim. Perguntei que defeito era e ele me falô assim: O defeito tá na cara. Eu oiei, oiei e num vi nadinha de nada. Oiei e perguntei . E ele vortô a fala que o defeito tava na cara. Ah! Disgraçado. Só quando cheguei im casa é que vi que tava na cara mesmo. A danada da égua era cega dum ôio. Arre, égua!!!
- Fica assim não, Zé. Falou Oliveiros. Eu acho que você tá precisando é de fazer um exame de vista pra enxergar melhor e ficar mais esperto..
- Que nada!!! Noutro dia mesmo eu fui num “zoista” lá no posto de saúde pra ele dá uma oiadinha nas minha vista. Ele me fez oiá num buraco lá,. Cum vidro na frente. Virô pra cá, virô pra lá, e no fim veio cuma cunversa pra boi drumi. Ele queria era me vendê o tar de óculos. E falô assim: O Seu Zé, o senhor tá precisando de dois óculos. Um pra perto e outro pra longe. Aí, eu muito esperto retruquei pra ele. Pricisa não dotô. Só o de perto ta bom. Já dá pro gasto. De longe, precisa não. O mais longe que vô daqui de casa é na casa do cumpadre.É bem pertim de casa. Não é longe, não.. Sô ou num sô bem isperto?
Palma, 10 de setembro de 2009.

O SABOR AMARGO DO MEL



Rubão chega cedo na cidade. Chega na companhia de Chico. Mas Chico fica escondido. Ninguém pode vê-lo. Tudo está planejado. Nada pode dar errado.
Rubão desce do trem, chama o chofer de uma carro de praça e segue até a rua onde se concentra o comércio de Palma. O comércio é dominado pelos turcos.
- Turco, não. Libanês.
Essa é a reação normal dos libaneses, quando são chamados de turcos.
Rubão vai até a venda do velho Salim, onde seu filho Mário está empilhando latas de gordura de coco em cima do balcão.
- Bom dia, Seu Mário.
- Bom dia.
Rubão se apresenta:
- Seu Mário, sou vendedor e venho de Cataguases.E eu trouxe pro senhor uma mercadoria que é um brinco!. Tenho umas peças de brim kaki Floriano, um percal muito bom, manteiga de Carangola, chapéu de lebre, tecido xadrez da fábrica de Miracema e um mel...ah! esse mel. É a doçura do céu. Nunca se viu por essas bandas um mel de tão pura qualidade. E tem mais. Hoje o senhor não vai me pagar pelo mel. Vou deixar duas garrafas de amostra. O senhor experimenta e noutro dia me fala o que achou.
Seu Mário compra o que tem pra comprar. Retira dinheiro do cofre e paga. Rubão se despede. E vai.
No hotel, próximo à estação ferroviária, Chico espera a chegada do comparsa. Da janela do quarto, no andar de cima do sobrado, ele observa a cidade lá embaixo e acompanha o passar do tempo no relógio da igreja. Rubão chega. Cumprimenta Dona Marta, a proprietária. Sobe apressadamente as escadas. Troca algumas palavras com Chico. E Chico desce.
Na venda, Seu Mário abre uma das garrafas de mel e experimenta. Realmente, uma delícia. Como disse Rubão: uma “doçura do céu “.
Algum tempo depois, envergando um bem engomado terno de linho, chega Chico. A venda do Seu Mário recebe a “ilustre” visita de um “importante comerciante Campista”.
- Bom dia, senhor.
- Bom dia.
Chico diz ser um comerciante da cidade de Campos, do estado do Rio de Janeiro, e que está por estas bandas a procura de produtos “da roça” para vender na cidade. Doces caseiros, trabalhos manuais, como crochê, tricô, etc. Seu Mário oferece, então, um pouquinho de mel para o “respeitável senhor” experimentar.
- Que maravilha! Exclama, Chico. E continua: O senhor tem quantidade deste mel para eu levar?
- Aqui, no momento, não. Mas posso conseguir para o senhor. De quantos o senhor precisa?
- Dessa qualidade, a quantidade que o senhor puder arrumar. Umas cem garrafas. Ou mais. Mas,vamos fazer o seguinte. Eu vou até o restaurante da outra esquina almoçar e passo aqui depois pra saber o que o senhor conseguiu.
Chico segue até o Bar Rio Minas, enquanto Mário pega a bicicleta e sobe a Rua Dr. Victor Ferreira em direção ao Hotel. No caminho, passa pelas professoras de Palma que trabalham em Silveira Carvalho que correm pela rua em disparada. O trem já apitou na estação. Mas é todo dia assim. Elas ficam olhando os tecidos e as novidades nas lojas do Seu Elias e do Bazar Leader, folheando revistas na banca do Arnaud, até que ouvem o apito da Maria Fumaça. Só aí é que começam a correr. É nessa corrida que são ultrapassadas pelo Mário que tem pressa de chegar ao Hotel antes que Rubão vá embora.
- Dona Marta – fala Mário – eu queria falar com um hóspede da senhora, chamado Rubão.
- Aguarde um pouquinho só, que vou chamar.
Pouco tempo depois, chega Rubão. Mário pergunta sobre o mel. Fala sobre a coincidência:
- Assim que o senhor saiu da minha venda, apareceu um homem que gostou muito do mel que ficou lá pra eu experimentar. E ele quer muitas garrafas. Fiquei de me informar se teria condições de atender. É por isso que estou aqui.
-O senhor continua com sorte. Ontem, mesmo, recebi um caminhão de garrafas daquele mel. É só falar a quantidade , que amanhã mesmo eu entrego aqui em Palma.
-Bom....(Mário coça a cabeça) Pode ser que apareça mais alguém que goste tanto do mel quanto o comprador de Campos. Traz , pra mim, umas duzentas garrafas.
- Amanhã cedo vão estar aqui.
- Mas espere só até o comprador passar lá na venda. Se ele confirmar o pedido, eu te telefono em seguida.
- Eu aguardo. Até mais.
Mário desce e espera. Chico aparece. Conversam. Chico confirma o pedido de cem garrafas. Mário promete para o dia seguinte, no final da manhã.
Mário atravessa a rua e vai até o Telefone Público. Pede à telefonista que faça uma ligação para o hotel e diz que quer falar com Sr. Rubão. A telefonista pega os fios, encaixa no número do hotel e diz pro Seu Mário se encaminhar à cabine e esperar o toque do telefone.
- Pode falar, Seu Mário – diz a telefonista.
Encomenda feita, Mário se despede e aguarda.
Dia seguinte. Uma caminhonete encosta em frente à venda do Salim e começa a descarregar as garrafas de “mel”. Mário estoca as garrafas na venda, dentro de casa, na calçada...Paga. E espera o comprador.
Enquanto espera, Rubão e Chico, já em Miracema, comemoram o golpe. Dinheiro dividido igualmente entre os dois. Agora, podem ficar a toa por mais de três meses. A grana apurada permite uma folga prolongada. Afinal, encher garrafas com água misturada com açúcar é muito fácil. Difícil é o Mário conseguir se livrar da “mercadoria”.
Enquanto os dois comemoram, Mário espera o comprador.
Espera.
Espera.
Espeeeeeera.....
Palma, 10 de setembro de 2009.








quarta-feira, 9 de setembro de 2009





Ponte de ferro - Cisneiros
Palma - MG
Fotos cedidas por Thiago A.Pinto

domingo, 6 de setembro de 2009

ESTA CIDADE "DAVA"UM FILME!!


- Óia o queijo. Óia o queijoooooooo!
- Quanto é que é, seu Sebastião?
- Seis real.
- Tá fresco?
- Fresquim, fresquim...
- Me dá um.
- Pode comprar tronquilo, sô Nego, tá fresquim e é muito limpim. Eu mesmo que faço com leite que eu tiro lá no meu sitiozim.. Eu mesmo preparo, arrumo e misturo tudim. E óia, é tão limpim que quando eu cabo de fazê, minhas unha ta que é um brinco de tão limpinha.
É assim, gritando pelas ruas, que Sebastião tenta vender seus queijos nos fins de semana. De segunda a sexta ele vende picolés.
- Óia o picolé, de abacate, de mio verde, de groséia, de leite, de manga. Óia o picolé. ÔÔÔÔôôôô criançada, vem pra fora e pede pra mãe comprá um proceis.
Ele passa pela frente da casa da Dona Aparecida e ninguém quer. Ele oferece, tenta vender um picolezinho só, mas Márcio, que está na varanda sozinho não se interessa.
Sebastião vai em frente, tocando aquela buzina irritante: fon-fon-foooooonnnn. Já está em frente à casa de Paulo, o vizinho, quando um netinho de Dona Aparecida, que estava dentro de casa, vem até a varanda e fala para o Márcio que quer um picolé.
Sebastião já está uns dois metros à frente. Márcio o chama:
- Seu Sebastião. Ô, Seu Sebastião.
- Que foi? Responde , com uma pergunta, com a fineza que lhe é característica:
- Me dá um picolé de abacate.
- Agora num posso mais não. Já passei daí. Agora, só amanhã. Num dá pra vortá.
Enquanto isso, bem pertinho dali, na casa do Seu Antonio, que está meio adoentado, um senhor chega para fazer uma de suas funestas visitas. Dona Maria, quando sabe que Seu Eliaquim estava chegando, mais do que depressa, fecha a porta da sala e tranca com chave. É que dizem por aí que Seu Eliaquim já anda até com uma vela no bolso. Doente que ele visita parte dessa pra melhor na horinha.
Êê! Sai pra lá!!!
Seu Eliaquim, então, dá meia volta e por pouco não dá uma trombada com Latifa Salim, a filha do Seu Salim, da venda da esquina.
Latifa, sempre mal- humorada , vive “de mal” e às turras com Sofia, mulher do Sebastiãozinho. Como Sebastiãozinho mora perto dali, Latifa se arma com um pedaço de papelão, com o qual cobre o lado do rosto para não ver Sofia. Assim,anda sem enxergar nada nem ninguém. Empina o corpo, o nariz, vira o rosto para o lado das paredes e dos muros, e vai em frente. Numa dessas, quase derruba Seu Eliaquim.
Na esquina da Rua do Cinema , agachada , Jorgina ajeita as meias de seda que embolam nas suas pernas finas. Puxa a meia da perna esquerda enquanto a da perna direita despenca. Jorgina vai ficando nervosa. Muito nervosa, até que começa com seu tique nervoso, esfregando as mãos na nuca , repetindo sem parar:
- Tá coçando, tá doendo, tá coçando, tá doendo, tá coçaaannnndoooooo...
No meio da rua do cinema, empunhando seu inseparável guarda-chuva preto, que mais parece um urubu, Dona Corina e sua filha Filinha caminham em direção à igreja de Nossa Senhora de Fátima e quase são atropeladas pela carroça do Seu Antônio que perde o rumo olhando as pernas de uma menina que passa.
Dona Corina cumprimenta Seu Said Salim, que está na porta da venda do pai, Salim, ajeitando uns chapéus nos pregos dos portais, mas ele vocifera alguns palavrões em árabe:
- Bom dia, Seu Said.
- Hummmmm!!!! *#*#*#hummmm!!!
- Ih! Hoje o negócio tá feio, hein!? O que é que houve?
- Nada, não. Nada, não.
Dona Corina fala pra Filinha:
- Melhor deixar pra lá.
O que aconteceu foi o seguinte: na véspera, passou por aqui um vendedor com uma garrafa de mel puro, por um precinho especial. Said experimentou, deu um pouquinho pra uma freguesa, que aprovou.Levou um pouquinho pra irmã dele que até pediu o resto da garrafa pra fazer a calda de um docinho árabe que ela estava preparando.
Said voltou pro balcão, onde o vendedor o esperava. Perguntou o preço. Achou quase um milagre. Então, aproveitou. Pediu todo o estoque que o vendedor disse ter. Passado um tempinho, uma camionete encostou na frente da venda e as caixas do “mel” começaram a ser descarregadas. Atrás do balcão ficou cheio, na frente, também. Said correu em casa e pediu a irmã para arrastar a cristaleira e a mesa da sala. Encheu a sala, também. Pra chamar a atenção pra mercadoria, mandou descarregar algumas caixas na calçada. Fez as contas e até lambeu os lábios. O preço era bom demais. O lucro seria fabuloso. Já estava pensando em colocar algumas caixas no ônibus e sair pra vender em Miracema, Laranjal e Muriaé. Said pagou. Calculou por quanto iria vender. De novo, lambeu os beiços. Só mais tarde descobriu o porquê de tamanho milagre. O mel não era resultado do trabalho de nenhuma colméia. O vendedor é que era a abelha rainha, o zangão e as operárias. O néctar era água misturada com açúcar. Muito açúcar.
O resultado: “mel” .
E muitos e merecidos palavrões.
Mas, voltemos à Dona Corina. Ela e Filinha continuam sua caminhada. Com o guarda-chuva toca um cachorro. Mas, bate com tanta força, que quebra o cabo. Na volta pra casa, passam pela ladeira para deixar o guarda-chuva com o Genésio, para o conserto.
Mas, hoje é dia de Dona Corina presenciar xingamentos. Pouco depois de passar pela Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, ela já ouve os gritos da molecada, que passa pela frente da casa da Maria Salomé, quase berrando:
- Rebeca!!!Rebeca!!! Rebeca!!!
E, Genésio, com os cabelos bem pretinhos, recém-tingidos, dá um galope atrás das crianças. Elas correm e gritam mais ainda. Cruzam com um senhor de fala, repetidamente:
-Será possível? Será possível?
Ele tanto repete isso que já é conhecido por todos como “Serapossivel”. Ele passa pelas crianças e segue em direção à igreja matriz de São Francisco para visitar o filho, José, o sacristão.
José vive na casa paroquial, num quarto com entrada independente. É lá que o Zé do Padre tem uma forma, na qual ele “fabrica” hóstias que deixam retalhinhos de massa de farinha de trigo que são disputados pelas crianças que ainda não fizeram a primeira comunhão e querem saber o gostinho que tem aquela partícula .
Mas essa é uma história que fica para outro dia.




Palma, 04 de setembro de 2009.