sexta-feira, 28 de agosto de 2009

comentário

Um amigo, ao cadastrar-se para fazer um comentário, cometeu um erro e cadastrou-se com o meu nome: betometri.
Portanto, ao emitir sua opinião a respeito de um dos meus textos, ficou registrado como se eu o tivesse feito.
Logo, quando aparecer algum comentário com meu nome, saibam que não é de minha autoria.
Mas espero que ele continue a ler e a fazer os comentários que quiser.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

OS LIBANESES EM PALMA





















É necessário que se faça algum registro sobre a importância dos imigrantes libaneses que se instalaram em Palma no início do século passado e sua contribuição para o desenvolvimento do comérci
o do município.
Infelizmente, até a data em que redijo o texto que se segue,no poder público municipal, de todos os tempos, ainda não apareceu ninguém sensível o suficiente para reconhecer a grande contribuição dos libaneses que vieram para nossa região e se fixaram em Palma.Na sede do município não existe nada (rua, placa, praça, mon
umento ou qualquer outra manifestação) que faça lembrar a importância do libanês na cidade.
Inicio tal registro com a relação daqueles que constituíram família e por aqui ficaram por muito tempo. (peço perdão pela grafia errada de algum nome)
A seguir, os casais que aqui vieram residir, aqueles que se casaram em nossa terra e constituíram suas famílias, com os respectivos filhos e outros
Depois, apenas algumas lembranças e coisas que ouvi contar.

- Alfredo Salim e Sahud Salim ( Nacib, Chaquib, Faride, Jofre. Alfredo, José, Glorinha,Selma e Iracema)
- Calixto Maluf e Alida Maluf Miguel ( na verdade Kalil Maluf Salum e Alida Metre Maluf)(Assed, Chafia e Odete)
- Chicre Metre Maluf e Maria Kalil Metre( Pedro, Said, José, Ralile, Sahda, Libania, Rosa e Hily)
- Daher Mirad e Burbara Sahid ( Mirat, Maron, Fideles, Teresa, Arlete, Manira, Alzira, Maria da Penha)
- Elias Abdalla Saab e Maria Metre Abdalla (sem filhos)
- Família Salum, em Cisneiros.
- Feres Maron e Amélia Metre Maron (Victória e Odaléa)
- Feres Metre a Málaque Simão Metre (Maria, Amélia, José, Helena e Laila)
- Feres Nemer e Málaque Nemer (Wilson , Jorge, Ivone, Ivete,
Tereza, Vitória e Emily)
- João Simão e Sahda Simão ( Nacib, Adib, Said, Simão, José, Chafih, Latufala, Maria Helena e Jamel)
- Jorge Ammar e Soraya Ammar (Mansur, Emily, Jorgete, Janete e Jane)
- José Auad e Maura Manira Auad (Lea, Marina, Terezinha, Joana D’Arc, Maria José, Maria Imaculada, Maria Cristina, Maron, Pedro, Antonio de Pádua e João Batista)
- José Simão e Violeta Simão (Américo, Michel, Mário, Nazira, Adiba, Adelina, Maria, Violeta, Faride e Emília)
- Latuf Abdalla e Ward Abdalla Chebli ( Fued, Nege, Michel, Amale)
- Miguel Felipe Amaro e Isabel Namitala  Amaro (Omar, Hinkler, Norma, Márcia, Carlos Miguel e Eber Pólo)
- Roque Nacif e Maria Jacob Nacif (Nagila, Maura Manira e Antonio )
- Said Abdalla e Jamel Abdalla ( Victória)
- Said Mansur e Saide Mansur ( Chaquib, Diebe, Hacibe, Michel, Nimer, Málaque, Linda e Manira )
- Salim Simão e Helena Simão (Salomão, Nagib, José e Maria Helena)
- Salomão Salim Maluf e Nazira Simão Maluf (Michel e José Carlos)
- Said Chicre (não se casou)


- Pedro Chicre (casou-se com uma brasileira: Nair Buarque Chicre)Maria Helena, Norma, Amale, Vitória, Antonio, Elias, José Paulo e João Batista)
- Málaque Mansur (Casou-se com um brasileiro, João Pereira Gomes) – João Antonio, Rily, Estela, Josélia, Sonia e Heleno)


Minha avó era uma grande contadora de histórias, nas quais a personagem principal era ela, Málaque Simão Metre. . E contava com tantos detalhes, que minha cabeça de criança usava toda a fantasia possível para torna-las ( as histórias) ainda mais bonitas.
Contava, minha avó, que meu avô, Feres Metre, a deixou grávida, no Líbano, e veio para o Brasil, em 1912, em busca de uma vida melhor, e que breve mandaria busca-la. Lá nasceu minha tia, Maria Metre.
No Líbano, também, ainda ficaram os irmãos de minha avó, José, João, Salim e Wadyh, que, posteriormente, também vieram para o Brasil.
Meu avô, que foi um grande e competente marceneiro, veio para o Brasil e logo começou a trabalhar, mesmo com a barreira da língua árabe. Ele nada falava em português.
Depois que minha tia nasceu, minha avó ainda permaneceu no Líbano por mais algum tempo., na Cidade de Kfar Katra, onde nascera. Sobre esta cidade ela deixou gravadas nas minhas lembranças as imagens da rua e da casa onde morava. Para mim a casa era de pedra, muito bonita, embora cinzenta (cor da pedra). Mais alta do que a rua, a casa tinha um porão onde se guardavam tonéis cheios de azeite com bolinhas de lábine mergulhadas no óleo. Tinha muita azeitona. E ovelhas. E comida gostosa. Minha tia chegou a brin
car por lá antes da vinda para o Brasil. Contava que chegou a dar ovo frito para o priminho recém nascido, Salomão, que também veio para o Brasil, onde se casou com uma prima, chamada Nazira.
Hoje penso como deve ter sido triste deixar a cidade natal, a terra natal e rumar para um país distante e desconhecido, e nunca mais, NUNCA MAIS rever o pai, a mãe. Arrancavam-se as raízes e voavam pelo mundo.
Uma interrupção para contar outro caso:Assim foi com tio Elias, (o Elias Abdalla Saab)ainda criança. Aos 12 anos, em 1914, na companhia que um tio dele que iria para a Argentina, o menino deixou pai, mãe e irmãos na cidade de Maasser Beit Eddine, e , num navio, veio para a América do Sul. Aqui no Brasil, o tio o deixou e seguiu para a Argentina. Elias ficou por aqui, nunca me contou como. Só sei que nunca mais reviu pai e mãe.
Um irmão, chamado Bechara Abdalla Saab veio passear no Brasil em 1968. Eu me lembro perfeitamente da emoção do reencontro. Ficou por aqui algum tempo e depois foi embora. E não mais voltou. O Elias desse parágrafo casou-se em 1930 com a Maria, filha da Málaque e do Feres, do início da história.
Lá em Kfar Katra, Málaque continuou a viver com Maria até que Feres Escreveu dizendo que ela poderia vir para o Brasil.
Mas o melhor da história, para mim, ainda criança, foi a que ela contou sobre a viagem de navio até o Brasil. Pela descrição que vovó fazia e o que minha mente visualizava, o navio era uma grande e moderna cidade flutuante. Tinha ruas, todas cobertas, com vendas (lojas) nas laterais. Como em Palma, na Rua do Cinema, as pessoas também passeavam pra lá e pra cá pelas ruas do navio.
A história é confusa, sem uma seqüência correta, mas é assim que os fatos vêm na minha cabeça.

Aqui, minha avó teve mais quatro filhos: Amélia (casou-se com Feres Maron), José (casou-se com a brasileira Antonia) , Helena (minha mãe, casada com o brasileiro, Oliveiros) e Laila (casou-se com Jacob Massud Jacob).SALOMÃO
Salomão era o único que sabia escrever em árabe, em Palma. Era ele o redator de todas as cartas que iam e o leitor de todas as cartas que vinham do Líbano.
Na década de 1960, o progresso trouxe aqueles imensos gravadores, com rolos também imensos de fitas. O gravador era do Hélcio Marcenes. Tia Ward juntava todos os libaneses na casa dela e Hélcio levava o gravador. E em meio a grande porções de tabule, homus, quibe e às vezes Arak (bebida árabe destilada da tâmara ou da uva, aromatizada com aniz), cada um gravava , entre risos e muito choro, suas mensagens que, depois, eram enviadas pelo correio para familiares no Líbano. Lá, outra reunião. Eles ouviam e gravavam as respostas. Outra vez a fita era colocada no correio. Quando chegava aqui em Palma, outra reunião. Todos ouviam. Riam. Davam gargalhadas. Choravam mais ainda. E a língua árabe era revivida em cada um desses encontros. É uma pena que hoje, dos poucos descendentes, apenas as irmãs Odete e a Chafia Maluf Miguel ainda saibam algumas palavras e contem algumas histórias.

Para Palma vieram muitos libaneses. Na maioria parentes. Aqui se estabeleceram e muito fizeram pela cidade. José Auad, Miguel Felipe Amaro, José Simão, João Simão, Said Abdalla, Elias Abdalla, Latuf Abdalla, Jorge Ammar, Salomão Salim Maluf, Feres Maron, dentre outros, foram importantes comerciantes na cidade.

O comércio palmense desenvolveu-se com os libaneses.
Algumas das principais lojas de libaneses, em Palma, a partir da década de 1920:
Casa Azul de Elias Abdalla – Grande e variadíssimo sortimento de fazendas finas, fazendas grossas para lavoura, ferragens, calçados, louças e miudezas em geral. Rua da Estação. (jornal A Voz de Palma – 1932)
Casa Estrela de Astolfo Abdala – Fazendas , armarinhos, louças, ferragens, perfumarias, calçados, chapéus, papelaria, artigos escolares, etc
A Barateira de José Auad – tecidos, artigos de perfumaria, louças e miudezas em geral – Esquina da Rua João Pinheiro com Rua Dr. Victor Ferreira.
Casa São Jorge de Jorge Ammar- Anúncio no Jornal A Voz de Palma , de 1932 - Completo sortimento de bebidas finas, nacionaes e estrangeiras, doces, conservas e artigos para fumantes. Tem annexo um bem montado Salão de Bilhares – Rua Dr. Victor Ferreira – Próximo ã Ponte.
Conta-se, também, que Seu Jorge, da Casa São Jorge, ensinou a muitas crianças o jogo de bilhar e um outro, chamado bagatela (ou bacatela – sobre esse jogo só encontrei um registro de que é tipo pimball) . Para tanto ele pedia às crianças que recolhessem as garrafas de bebidas vazias do bar. O tempo de jogo para cada criança dependia da quantidade de garrafas recolhidas.

Hoje, das lojas fundadas por libaneses em Palma, somente uma se mantem, embora com outro nome e outro proprietário: a Casa Azul, de Elias Abdalla, loja de tecidos, armarinho, funciona no mesmo local, ainda comercializando tecidos e armarinho.

Palma, 27 de agosto de 2009
(FOTO: Feres Metre e Málaque Simão Metre. Os filhos (atrás) José, Amélia, Maria, (na frente)Laila e Helena
.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

NAQUELA MESA DO CALIFA - UMA CONVERSA. UM REGISTRO.

Estávamos sentados nO Califa, conversando.

E ela disse, numa confissão um tanto triste:
- Vou fazer 60 anos. E deixei de fazer tanta coisa na minha vida! Se eu pudesse, voltava lá nos meus dezoito, vinte anos e faria muitas outras coisas. Minha vida passou e não fiz nem metade das coisas que queria fazer.
Ele discordou.
- Não é bem assim que a gente deve pensar. Se você analisar direitinho vai ver que todos os momentos da sua vida foram preenchidos. Assim é que o tempo corre. Sendo preenchido. Hoje somos a soma de todos os dias , todos os milésimos de segundo de nossas vidas. Não houve tempo para fazermos mais nada além do que fizemos. Toda a nossa vida foi vivida. Todo o nosso tempo foi útil, no sentido de utilizado.Até pelas coisas que deixamos de fazer.
Então, não há do que reclamar. Só somos o que somos hoje, porque fomos o que fomos ontem.
- É. Sabe que você pode ter razão!?
- Pois é. Não vale a pena a gente ficar chorando pelo que passou. Ou até pelo que não aconteceu. O Ontem já passou e não podemos fazer nada para muda-lo. Amanhã será outro dia e não temos capacidade de prevê-lo . Então, vamos ser felizes hoje.. Porque se acordarmos amanhã, iremos faze-lo com alegria porque fomos dormir bem. E assim “la nave va”. Graças a Deus!

Não era papo de bêbado, nem filosofia barata, nem conversa pra boi dormir, nem falta do que falar.
Foi uma conversa da qual participei, ouvindo. Só abri a boca pra falar que gostei e que valia a pena registrar.

Está feito o registro.


Palma, 26 de agosto de 2009.

SETE DE SETEMBRO. É DIA DE PARADA.











FOTOS DA PARADA DE SETE DE SETEMBRO DE 1960






Blusa branca bem engomada e saia azul marinho. Comprimento da saia abaixo dos joelhos. Sapatos pretos bem lustrados.Este é o uniforme das professoras. Exceção para uma só. Esta, em especial, usa tênis brancos. E um apito estridente sempre pronto para nos alertar sobre um passo errado ou uma brincadeira fora de hora. Esta é Dona Romilda, a professora de ginástica (ainda não se usava falar Educação Física).
Aos gritos de ordem, a turma se esmerava em: Sentido. Esta posição consiste em ficar rígido, com as pernas esticadas, as mãos espalmadas juntas às coxas e os braços meio curvos. Os calcanhares devem se tocar e as pontas dos pés devem estar meio abertas. Com a cabeça erguida, os olhos deverão olhar para a frente. Depois: Descansar: é uma boa posição. Com os braços cruzados nas costas e as pernas e os pés mais afastados. Cobrir: com o braço direito estendido até tocar, com os dedos, o ombro do companheiro à nossa frente. E tem também: direita, volver! Esquerda, volver! Meia-volta, volver! Esquerdo, direito, esquerdo, direito, esquerdo, direito. O pé esquerdo tem que tocar o chão, com força, na batida mais forte do bumbo. E por aí vai, até o melhor de todos: FORA DE FORMA.
Hoje é dia 7 de setembro de 1960. Todas as professoras recrutadas para o desfile escolar(Naquela época desfile era chamado de parada)Os alunos, levantam-se bem cedo. Os meninos, com calças curtas azul-marinho, camisas brancas bem passadas,sapatos pretos engraxados, cabelos bem cortados.Predomina o corte “Príncipe Danilo”: Cabelo “Príncipe Danilo” ou cabeça raspada com topetinho na frente. Segundo minha pesquisa, este tipo de corte foi usado por um jogador brasileiro, chamado Danilo Alvim. Apelidado de “príncipe”,ele começou a carreira no América do Rio e chegou a jogar na Seleção Brasileira.As meninas, com saia azul marinho toda pregueada, blusa branca abotoada até o pescoço, sapatos brilhando e meias brancas.
A bateria já está pronta. Meninos e meninas em fila. Professoras a postos. Dona Judith no comando. E Dona Romilda tem todo o seu trabalho para mostrar à cidade. Uma a uma, todas as turmas vão para a frente do Grupo. Separados por classe, todos entram em forma. Por ordem de tamanho. Um a um. Uma a uma.
Um apito. Dona Romilda grita as palavras de ordem. EM FORMA! COBRIR! MARCAR PASSO. ESQUERDO. DIREITO. ESQUERDO. DIREITO. ATENÇÃO. ESQUERDO. DIREITO. Seguindo a batida do bumbo, Dona Romilda, dá a ordem. MARCHA.
Mantendo a distância dada pela ordem de Cobrir, saímos em desfile pela cidade. Na frente, abrindo o desfile, vão as meninas com luvas brancas, carregando as bandeiras do Grupo Escolar Artur Bernardes e do Estado de Minas. Ao centro, um menino, com calça comprida e camisa de mangas longas, levando a Bandeira Nacional.
A Rua do Cinema, ou Rua Dr,. Victor Ferreira, está apinhada de gente. Bandeirinhas nas cores verde e amarela. Cada um com todo cuidado para não errar o passo. Trocar o pé na hora da batida forte do bumbo é motivo de um “pito” da Dona Romilda e de chacota por parte do resto da turma.
Num determinado ponto da rua, o Prefeito, a Primeira Dama, o Juiz de Direito, o Promotor, o Padre e outras autoridades assistem e aplaudem com entusiasmo. O Chefe do Destacamento Policial da cidade chega a fazer continência quando passa o pavilhão nacional..Os alunos e alunas estufam o peito militarmente ao passar em frente às autoridades. Querem fazer bonito. E acertam mais o passo, batendo firme o pé no chão, quando um aceno mais empolgado indica que papai e mamãe querem escancarar seu orgulho, satisfação e alegria. As crianças apenas olham de lado e sorriem também orgulhosas.
O desfile segue pela Rua João Pinheiro, até o Açougue do Maron, onde vira e desce de volta pela mesma rua, em direção à Rua Bias Fortes, até o Grupo Escolar.
A bateria para.
Dona Romilda apita.
Sentido!
Descansar.
E o tão esperado FORA DE FORMA.!
Agora só se vê a molecada correndo e gritando pelas ruas na volta pra casa.

E Viva o Brasil!!

Palma, 25 de agosto de 2009.
Dia do Soldado



























segunda-feira, 24 de agosto de 2009

ATA DO TAP - FESTA DO ALGODÃO E MISS ELEGANTE 1958

ATA RETIRADA DO LIVRO DE ATAS DO TAP

Aos 20 dias do mês de julho de 1958, foi realizada no club local a Festa do Algodão, organizada pelo T.A.P.
Para comentar a referida festa transcrevo abaixo o artigo do Dr. Fued Abdala Chebli, pelo jornal “A Defesa”de 24 – 8- 1958.
FESTA DO ALGODÃO
Escreveu Fued Abdala Chebli
Realizou-se no dia 20 de julho próximo passado, no sal’`ao principal da Sociedade Musical Santa Cecília, a tradicional festa do algodão, promovida pelos integrantes do Teatro de Amadores de Palma e animada por “Carmindinho” e seu conjunto, apontado sem favor como o melhor do Estado do Rio.
A grande festa, como se esperava, transcorreu com o brilhantismo e entusiasmo que caracterizam as iniciativas do T.A.P.
Como início das festividades, foi organizado um magnífico desfile de modas em tecidos de algodão, salientando-se as novas linhas “trapézio”, “saco”, “fofoca”, “colher”, ’”melindrosa” etc., do mesmo participando encantadoras senhoritas da sociedade local e visitantes, especialmente convidadas.
Ao ser iniciado o monumental desfile, já era das mais intensas a expectativa reinante entre os presentes. E precisamente as 22 horas, ante uma comissão julgadora escolhida com muito carinho, surgiu na passarela, linda, distribuindo sorrisos, desfilando com tranqüilidade e elegância um maravilhoso linha “balão”vermelho em cetim da Bangú, a Srta. Edméa Amaral Andrade, arrancando justos e vibrantes aplausos, e dando a todos a convicção de que voltaria a desfilar, agora ostentando o honroso e cobiçado título de “Miss Elegante” 1958.
Em seguida, desfilou a Srta. Nelza Alvim, envergando um lindo vestido “saco”em veludo verde, sendo também aplaudidíssima. Realmente nossa bela representante, pela graça e encanto que irradiava, fez jus àqueles aplausos.
A terceira a desfilar fioi a encantadora Ieda Alvim. E fê-lo num belo “fofoca”em veludo vermelho. Como as duas primeiras, também recebeu consagradora ovação.
Surgiu, então, na passarela a exuberante Maristela Oliveira, sob um “fofoca”em fustão rosa lhe regateando aplausos o grande número de pessoas presentes.
Com ansiedade, talvez pela sua condição de debutante, era aguardada a senhorita Selma de Castro, mas Selma desfilou como veterana, tal o seu desembaraço, encanto no andar e nos movimentos. Vestida de “saco”em malha azul, foi demorada e merecidamente aplaudida.
Também, Maria José Amaral, que escolheu Palma para sua terá natal, de “colher”em tecido côco ralado amarelo, desfilou, trazendo alegria aos nossos olhos, já que estava verdadeiramente linda. Foi, por isso mesmo, das mais aplaudidas.
Mas Cisneiros também se fez representar na festa do Algodão. E o importante e progressista distrito estava muito bem representado através da estonteante Wanilde Finamore, que deslizou sôbre a passarela num “baby doll” em frezela( ?), irradiando simpatia, transmitindo beleza, e graças ao seu desembaraço com que se apresentou, foi efusivamente aplaudida.
A festa do T.A.P. parecia atingir seu ponto máximo, quando o locutor anunciou a Srta Irene Muratóri, graciosa representante da vizinha cidade de Muriaé, que desfilou um “colher” em tecido frezela(?), prestigiando, assim, nossa festa e arrancando entusiásticos aplausos.
Agora ia ser anunciada a última participante do desfile. E o animador mal acabou de mencionar Srta. Edelmira Menezes, as palmas estrugiram por todos os cantos do local em que se realizava a grande e esperada festa.
E em meio a tantas palmas, surgiu a representante de Miracema. Senhora absoluta de si, revelando impressionante desembaraço social, desfilou de “fofoca”em pied -de- poule, ela que trazia o título de a mais elegante do norte fluminense.
Agora que desfilara a última candidata ao título de “Miss Elegante” uma natural ansiedade e incontido nervosismo invadira a todos. Aqueles aplausos tributados às beldades parecem ainda hoje ecoar por toda a cidade. Embora agradável, era enorme a responsabilidade dos juízes. Cônscios dessa responsabilidade, houveram por bem solicitar aos felizes promotores da festa que fizessem desfilar em conjunto as nove representantes da beleza feminina. E graças à iniciativa da comissão julgadora, vimos Delicados pezinhos sustentando lindos corpos, perpassar por sobre a passarela, como que um desafio àqueles que tinham nos ombros o dever indeclinável de eleger a mais elegante.
Terminada a derradeira apresentação das candidatas, os olhares todos se convergiram para os juízes.
Os comentários fervilharam entre os presentes, numa demonstração assaz eloqüente de interesse em torno do veredictum a ser dado. E aquele vozeiro todo, como que por encanto, cedeu lugar ao mais completo silêncio. Ia ser anunciado o nome da vencedora do concurso. Palma conheceria, a partir daquele instante inesquecível, a “Miss Elegante”1958. E quando o locutor anunciou o nome da vencedora, so presentes se prorromperam em palmas, dando-nos a nítida impressão de que viria abaixo nosso clube, palco de tantas e tão memoráveis noitadas.
Surgiu, então, na passarela, Edméa Amaral Andrade, ostentando a faixa e a corôa que lhe deram o honroso título de Miss Elegante 1958. E Edméa estava mais linda do que nunca, feliz e elegante, distribuindo agradecimento dentro daquela modéstia que bem caracteriza as pessoas que se sabem dignas de admiração. Enquanto desfilava pela passarela, mais e mais era aplaudida.
Edméa recebia, assim, a consagração definitiva, a maior prova de que merecera o pomposo título.
Mas outras beldades também foram distinguidas com diversos títulos.
Nelza Alvim e Maria José Amaral, se colocaram respectivamente em primeiro e segundo lugares no concurso de trajes mais bonitos.
Wanilde Finamore e Edelmira Menezes foram as duas visitantes colocadas em 1o e 2o lugares recebendo, todas, além do título, por si só honroso, riquíssimos mimos.
Quase ao fim da festa, a comissão organizadora decidiu conceder mais um título, qual seja, o de Rainha do Algodão a uma das jovens presentes.
Procedida a votação, Edméa Amaral Andrade mais uma vez mereceu a preferência dos presentes, levando, assim, para o belo palacete da Rus Bias Fortes os dois títulos, juntando-os aos inúmeros que já possuía.
Ao encerrar estes modestos comentários, permita-me servir das colunas deste jornal, conceituado órgão editado nesta cidade, para transmitir a valorosa equipe do T.A.P. os meus sinceros cumprimentos pela magnífica festa de 20 de julho passado e ardentes votos para que levem adiante o grandioso plano de construir num futuro próximo sua séde nesta cidade.
À linda rainda do Algodão e Miss Elegante 1958, formulo votos para que seu longo e feliz reinado seja repleto de lindos sonhos.

A renda bruta foi de Cr$13.520,00, despesas de Cr$7.943,00, dando um saldo a favor do T.A.P. de Cr$5.577,00.
Para constar fiz a presente ata que será assinada pela diretoria e amadores que auxiliaram para o brilhantismo da festa.
Assinam: Maria Geralda Gomes, Hélcio Marcenes Silva, Helvécio Marcenes da Silva, Helvécio Nogueira, José Agrícola.

ATA DE APRESENTAÇÃO DO TAP - O SEGREDO DO PADRE JEREMIAS




Cartazete de divulgação da peça A FEIA, do TAP e Hélcio Marcenes Silva


Aos vinte e cinco dias de junho de mil novecentos e cincoenta e quatro, após quatro anos de silêncio, volta o T.A.P. às suas atividades, apresentando no palco do Cine Brasil, uma empolgante peça dramática que é uma verdadeira jóia do Teatro Nacional, intitulada “O Segredo do Padre Jeremias” de Ferreira Neto.
Foram presenteados com a renda desse espetáculo os presidiários locais, para compra de roupas, apurando a quantia de Cr$2.500,00.
Em primeira audição foi cantado pelos amadores o Hino do T.A.P., gentileza do Sr. Nacib Salim (letra e música) a quem nosso quadro fica eternamente agradecido.
O programa apresentado nesta noite de alegria pela volta de atividade do T.A.P. foi a seguinte:
1o – Hino do T.A.P. – por todos.
2o – El amore – Bailado – Hélcio, Amélia , Zezinho, Norma, Jarbas, Virgínia, Helvécio(guinga), Laurici, Maria Lúcia e Maria Célia
3o – A volta do herói – Declamação – por Victória Maron
4o – Cartas de amor – Canto e declamação – Hélcio e Victória
5o - Eu só amo você – Bolero cantado por Amélia
6o – Índia – quadro – Norma, Josélia, Helvécio Nogueira e Amélia.
7o – História de um coração – Declamação por Maria Stela Amaral
8o – O Segredo do Padre Jeremias – Drama em 3 atos de Ferreira Neto, com a seguinte distribuição:
IRMÀO – Jarbas Agrícola
FIEL – Virgínia Matos
Pe. JEREMIAS – Hélcio Marcenes
Da. AUGUSTA – Josélia Pereira
NEUZA MARIA – Ma. Stela Amaral
FLAVIO – Helvécio Nogueira
JONAS – Helvécio Marcenes
Dr.ODILON – José Agrícola
MADRE ANGËLICA – Victória Maron
REPORTER – Laurici Moura
Nessa apresentação tivemos a direção artística de Hélcio Marcenes. Ponto – Déa de Paula Freitas.
Eu. , secretária, para constar mandei lavrar a presente ata que será assinada por mim, diretoria e amadores.
Palma, 25 de junho de 1954
(assinam) Maria Stella Alvim do Amaral, Hélcio Marcenes Silva, Cyro de Castro Araújo, Helvécio Marcenes da Silva, José Agrícola, Jarbas Agrícola, Josélia Pereira, Victória Maron, Virgínia Maria Matos, Lauricy Duarte Moura, Amélia Petrilo, Norma Chicre, Geraldo Petrilo, Domingas Helena Petrilo.




sábado, 22 de agosto de 2009

SHOW DE VARIEDADES DE HELVECIO NOGUEIRA SUCESSO NAS NOITES DE PALMA



...tenho ciúme do sol, do luar do mar,
tenho ciúme de tudo,
tenho ciúme até
da roupa que tu vestes.
- Não, Seu Antônio. Tira um tom mais alto um pouquinho só!
- Então, vamos lá!
Nesse momento, toda a Rua do Cinema ouve a voz da Nair, que ensaia a música do Orlando Dias, que ela pretende cantar logo mais, à noite no Show de variedades do Helvécio Nogueira.
Enquanto isso, no pequeno palco do Cine Brasil, vai sendo montado o esquema para o show que será apresentado a partir das oito da noite.
Numa mesa, no canto à direita, são expostos os prêmios que serão sorteados entre os espectadores do espetáculo.
A cortina de tecido acetinado vermelho é fechada na frente da tela recém-inaugurada de cinemascope.
A pequena caixa de som, com amplificador, é colocada logo atrás da mesa. É dela que sairá o som do violão tocado pelo Sr. Antonio Agrícola, o músico responsável por acompanhar os cantores, cantoras , calouros e calouras do show.
As crianças, em suas casas, juntam todo tipo de quinquilharia para o show. Logo mais os bolsos estarão cheios de palitos de fósforos, pregos, folhas de papel de carta Copacabana, maços de cigarros vazios, anéis, alianças, balas, chaves, caixinhas de chicletes Adams, e mais uma variedade imensa de objetos.
Pouco antes do show começar são abertas as inscrições para o show de calouros.
Os cantores e cantoras palmenses se esmeram no figurino. As meninas já foram na Dona Neuza e na Maria Leite. Rolinhos nos cabelos, secador e penteados. Os rapazes procuraram as barbearias do Gesney e do Cidinho para cortar os cabelos e acertar os bigodes. Laquê e gumex completam os penteados na saída para o show.
O Cine Brasil, palco do espetáculo está todo iluminado. Do lado de fora as lâmpadas também foram acesas. Ingressos vendidos, todas as cadeiras ocupadas. Mas ninguém quer ficar de fora. Alguns voltam em casa ou vão até o Bar Tip Top ou no Leão da Esquina e conseguem cadeiras emprestadas. O corredor que já era estreito se enche de cadeiras extras.
É por esse corredor apertado que o animador do show faz sua entrada.
- Com vocês, Helvécio Nogueira e o Show de Variedades.
Com a voz grave que lhe é característica, Helvécio, ovacionado pela platéia, dá o seu :
- Boa Noite, querido público.
E o espetáculo começa. Pelo palco do Cine Brasil desfila o grande time de astros e estrelas da música palmense..
José Machado, fazendo como sempre ritmo com os pés, canta , de Agustín Lara, Solamente una vez.
Marta Torres, de Margarida Lecuona, canta o grande sucesso de Ângela Maria. Seu Antônio dá a introdução e Marta começa:
Está empezando el velorio
Que le hacemos a Babalú
Dame diecisiete velas
Pa pornelas en cruz
Dame un cabo de tabaco, mañiengue...

O agudo que dá em Babalúúúúú encanta a todos.


O público aplaude


O galã, Ciro de Castro , sobe ao palco. Os brotos quase deliram. E Ciro interpreta:
Bonequita linda

De cabelos loiros
Olhos de cristais
Lábios de rubi.
Lena, que tem olhos azuis, e é o grande amor de Ciro, também encanta a todos , cantando um grande sucesso de Dalva de Oliveira.
A seguir, Helvécio, com o timbre de Nelson Gonçalves, apresenta, de Benedito Lacerda e David Nasser, A Normalista
Vestida de azul e branco

Trazendo um sorriso franco

No rostinho encantador

Minha linda normalista

Rapidamente conquista

Meu coração sem amor
Eu que trazia fechado

Dentro do peito guardado

Meu coração sofredor

Estou bastante inclinado

A entregá-lo ao cuidado

Daquele brotinho em flor
Mas, a normalista linda

Não pode casar ainda

Só depois que se formar...

Eu estou apaixonado

O pai da moça é zangado

E o remédio é esperar

O apresentador chama uma criança para fazer um sorteio. Ela tira o número 17. José Antonio , todo feliz, busca seu prêmio: Um sabonete eucalol e um vidro de extrato Dirce.
Em seguida, Helvécio anuncia:
-Quem me trouxer um papel de bala Juquinha, ganha dois picolés do Bar do Benedito.
A criançada sai correndo em disparada. Pulam por cima das cadeiras, pisam nos pés dos outros e vão correndo pela rua do Cinema, àquela hora vazia. Todos estão no show.
Enquanto as crianças procuram pelos papéis, o apresentador agradece aos patrocinadores: Casa Azul, de Elias Abdalla, Bar do Benedito Amaral, Bar Rio Minas, do Seu Duarte, Sapataria São Crispim, de João Pereira Gomes, Seu Osvaldo e Dona Aurora, do Leão da Esquina , Oficina do Pedro Chicre e Açougue do Juquinha.
Rapidamente, entra um moleque gritando e mostrando na mão um punhado de papel de bala. Sobe a pequena escada de madeira que dá acesso ao palco e despeja todos eles sobre a mesinha. Helvécio confere e entrega um vale para o menino pegar o prêmio.
Em seguida, entram os calouros.
Depois, Nair canta o sucesso de Orlando Dias e Walter Moura, debaixo de aplausos e gritos, canta Conceição, sucesso de Cauby Peixoto.
Para encerrar o show, Helvécio convida o grande ator, Hélcio Marcenes, fundador do Teatro de Amadores Palmense, que emociona a todos com o belo poema “As mãos”.
Para que servem as mãos? As mãos servem para pedir, prometer, chamar, conceder, ameaçar, suplicar, exigir, acariciar, recusar, interrogar, admirar, confessar, calcular, comandar, injuriar, incitar, teimar, encorajar, acusar, condenar, absolver, perdoar, desprezar, desafiar, aplaudir, reger, benzer, humilhar, reconciliar, exaltar, construir, trabalhar, escrever...... ... foi com as mãos que Jesus amparou Madalena; com as mãos David agitou a funda que matou Golias; as mãos dos Césares romanos decidiam a sorte dos gladiadores...
Aplausos. Muitos aplausos.
O público aplaude de pé.
Despistadamente, alguns espectadores enxugam um lágrima que cai.
Hélcio agradece. E Helvécio, vitoriosamente, encerra mais um Show de Variedades.
– Muito obrigado. E até o próximo Show , se Deus quiser!

Palma, 22 de agosto de 2009.






















PRIMEIRA APRESENTAÇÃO DO TEATRO DE AMADORES PALMENSES

ATA DA PRIMEIRA APRESENTAÇÃO DO T.A.P.

Aos três dias do mês de abril de mil novecentos e quarenta e nove foi realizada no palco da Sociedade Musical Santa Cecília a primeira apresentação do T.A.P. ao povo desta cidade, com o consagrado drama de Antonio da Silva Peixoto, em 2 atos: “O Poder da Fé”.
Verificou-se neste espetáculo a renda de Cr$680,00 que foi revertida em benefício do Dispensário Saio Vicente de Paulo, desta cidade, sendo entregue ao Snr. Padre Oscar de Oliveira a quantia de Cr$380,00, e o restante efetuado em despesas com a apresentação.
Os amadores tendo recebido calorosos aplausos por parte da seleta platéia e imprensa local, prometeram em breve fazer novas apresentações , procurando cada vez mais agradar o exigente público desta cidade.
O programa para este espetáculo foi assim constituído:
1o – Deus salve América – por todos
2o – Duas almas – bolero cantado por Aurete
3o – Proteção de Deus - Dramatização por Juquinha, Josélia e Helvécio.
4o – Buena Dicha – Canto por Aurete e Hélcio
5o – Se não fosse o telefone – esquete – por Aurete, Francisco, Newton, Maria Stela e Juquinha.
6o – O Poder da Fé – Drama em 2 atos de Antonio Silva Peixoto, com a seguinte distribuição:
ERNANI – Hélcio Marcenes
DR. MARIO – Newton Gouvêa
ZENITA – Josélia Pereira
IRMÃ TEREZINHA – Maria Stela Amaral
ARLETE – Norma Chicre
N.S.DAS GRAÇAS – Neide Freitas

7O – Contos dos Bosques de Viena – bailado p/ Aurete, Helma, Maria Helena, Maria Stela e Deusdedete
8o – Serenata de Joseli – Canto por Hélcio e Aurete
9o – Momentos de Aperto - Comédia em 1 ato por Hélcio, Aparecida, Francisco, Helvécio e Juquinha.
10o – Baião – Bailado – Juquinha, Aurete, Helma, Maria Stela, Maria Helena, Josélia, Aparecida e Deusdedete
E com esse mesmo programa o T.A.P fez sua primeira excursão em Morro Alto no salão do cinema local, no dia 6 de abril.
Para constar, eu Helvécio Nogueira, Secretário por ordem do Snr. Presidente lavrei a presente ata que será assinada pela diretoria e amadores.
Assinam
Helvécio Nogueira
Helcio Marcenes Silva
José Gonçalves Ferreira
Francisco Ferreira Filho
Josélia Pereira
Aurette Agrícola
Norma Chicre
Helma Marcenes da Silva
Maria Stella Alvim do Amaral
(Foto de apresentação de peça teatral do TAP, na década de 1950, com Hlevécio Nogueira, Maria Stella Alvim do Amaral, Lourdes campos e Hélcio Marcenes)

ATA DE FUNDAÇÃO DO TAP TEATRO DE AMADORES PALMENSES
















TEATRO DE AMADORES PALMENSES

ATA DE FUNDAÇÃO


Aos 13 dias do mês de outubro de 1948, compareceram no Salão da Sociedade Musical Santa Cecília, os seguintes rapazes e senhoritas da nossa sociedade: Newton Gouvêa, Helvécio Nogueira, Josélia Pereira, Helma Marcenes, Aurette Agrícola, Maria Helena Chicre, Maria Stela Amaral, a convite de Hélcio Marcenes e José Gonçalves, para tornar realidade a fundação de um grupo de amadores teatrais.
Após breve conversação, foi escolhido o nome para frutuoso grêmio, sendo batizado por “Teatro de Amadores Palmenses”, e foi ventilada a idéia de uma pequena eleição para escolha da primeira diretoria para o prazo de um ano.
Depois de apurada a votação, ficou assim constituída a referida diretoria:
Presidente de Honra – Da. Balbina de Oliveira
Presidente – Hélcio Marcenes
Vice-Presidente – Newton Gouvêa
Secretário – Helvécio Nogueira
1o Tesoureiro – José Gonçalves
2o Tesoureiro – Josélia Pereira
Oradora – Maria Stela Amaral
Ponto – Déa de Paula Freitas
Tendo sido aprovada, logo foi empossada a diretoria.
O presidente eleito agradeceu aos seus colegas a honra que lhe deram, prometendo não medir esforços para ver a glória do T.A.P., declarando que terá o mesmo como finalidade, além de contribuir para o progresso artístico de nossa terra, o elevado intuito de cooperar nas obras materiais, sobretudo as de fim caritativo e de assistência social aos pobres.
Nada mais havendo a tratar, eu Helvécio Nogueira, secretário, lavrei a presente ata que será assinada por mim, pelos membros da diretoria e demais amadores. Palma, 13 de outubro de 1948
(assinaturas)
Helvécio Nogueira
Hélcio Marcenes Silva
Josélia Pereira
José Gonçalves Ferreira
Maria Stella Alvim do Amaral
Déa de Paula Freitas
Helma Marcenes da Silva
Maria Helena Cricre
Aurette Agrícola






(copiado do livro de atas do T.A.P.)

(foto de reunião do TAP - Ciro de Castro, Helvécio Marcenes(Guinga), José Joaquim Prazeres Ferreira
(Zé Trequinha),Helvécio Nogueira, Selma de Castro, Hélcio Marcenes e Norma Chicre)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

É MÊS DE MAIO? TEM FESTA! TEM QUERMESSE.

Anjinhos da década de 1940, na frente da Igreja Matriz de
São Francisco de Assis.
Vigário da época: Padre Prette
.




Cai a noite. É mês de maio.
O friozinho ainda existe na cidade de Palma neste ano de 1959. O desmatamento ainda não é uma realidade e o efeito estufa é coisa de ficção científica. As cadeiras nas calçadas foram guardadas e nem chegou o inverno. As noites de outono já são bem frias.
Na maioria das casas, as meninas vestem pijaminhas de flanela antes de colocarem as vestimentas de anjo. Dona Zilica já entregou todas as asas encomendadas (por causa delas, muitos patos foram para as panelas). Os papelotes são retirados e os cachinhos caem enrolados pelos ombros dos “anjinhos”.
O santuário de Nossa Senhora de Fátima, recém inaugurado, ainda não é o templo escolhido para as coroações e festividades do mês de maio. Tudo se concentra na Igreja Matriz de São Francisco de Assis. Os sinos batem. Hoje é 1o de maio, dia de coroação, o que vai se repetir durante todo o mês. Nas reuniões preliminares já foram escolhidos todos os anjinhos que irão coroar, jogar flor, colocar o véu, a palma e oferecer o coração. A Gráfica “A Defesa” já imprimiu a maioria dos santinhos que são oferecidos ao final de cada coroação. Saquinhos de filó recheados de guloseimas ( bolos, doces e balas) também são oferecidos em algumas coroações a todas as meninas que se vestem de anjo.
É lá no Salão Dom Bosco que elas se preparam para coroar e é lá também que a festa é encerrada.
Em fila, elas cantam: e vão, em direção à igreja.
Mãezinha do céu
eu não sei rezar,
eu só sei dizer,
eu quero te amar.
Azul é teu manto,
Branco é teu véu,
Mãezinha eu quero
te ver lá no céu.
A igreja está cheia. Pais e mães se acotovelam para que possam ver de perto suas filhas no altar todo forrado com papel de seda amassado, com duas escadas laterais. No alto, a imagem da Imaculada Conceição espera seus anjos e a homenagem que se repete por todo mês.
“Ave Maria.
tão terna e boa
quero ofertar-te
esta coroa”.
Assim, com esta musiquinha bem simples, as meninas menores coroam. As mais velhas ( de 6, 7,8 anos ou mais um pouco) cantam músicas mais difíceis e mais elaboradas.
Colocada a coroa, os anjinhos jogam flores na “Mãe do Céu”, os sinos repicam e os pais “babam” pelas filhotas.
Todos saem em direção às barraquinhas montadas ao lado da igreja. Seu Ilídio foi o primeiro a chegar. Recebeu, uma a uma, as prendas para o leilão e as arrumou sobre a mesa no centro da barraca. Pencas de laranja, bananas e mexericas, frangos cobertos com papel celofane vermelho preso por um palito com uma azeitona na ponta, bolos e broas enfeitados com papel recortado , imitando rendas, garrafas de vinho, jarras de porcelana, bibelôs de louça, e mais uma infinidade de prendas. Debaixo da mesa, amarrados com embiras, frangos e galinhas.
Numa outra barraca, Dona Belarmina já mexe com uma grande concha, o enorme caldeirão cheio de leite com chocolate.A Da Paz ajuda, olhando a outra panela com leite para não entornar. Em cima das tábuas que servem de balcão em toda a volta da barraca, Dona Maria Freitas arruma as xícaras de louça com os pires que são usados pelas crianças para beberem o chocolate mais frio um pouco. Elas despejam o chocolate no pires e bebem. Não há água encanada na barraca. As louças são lavadas em bacias e caixas dágua colocadas no chão ao lado do fogão a lenha.
Na barraca do pastel, Dona Zilica comanda a mesa onde a massa é aberta e os pasteis são recheados. No fogão, um tacho com gordura quente e uma mulher abanando constantemente o fogo para evitar que se apague.
Lá no canto ouve-se o grito da criançada que se junta em volta de toda a barraca. Só de perto dá pra ver o porquê. Muitas casinhas de madeira dispostas em círculo e no meio delas, até meio tonto, um coelho preso pelas orelhas espera ser solto para tentar entrar em um delas. Apostas feitas com as fichinhas compradas por “um cruzeiro”, o coelho é solto e a gritaria da criançada começa.
Numa outra barraca, jovens casais de namorados brincam de pescaria , tentando com um arame retorcido como um anzol, preso num barbante, pegar uma plaquinha com um número enterrada numa caixa de areia.
Da janela lateral da igreja, lá do alto do coro, um baldinho preso numa corda sobe e desce levando fichinhas e trazendo pequenas prendas..
O frio aumenta. Mas isso não espanta as pessoas que procuram a barraca das barcas para balançar daqui pra lá, de lá pra cá, pra lá e pra cá, cada um puxando uma corda para fazer a barca subir cada vez mais. Em duplas, as pessoas se sentam nas barcas e o balanço começa. Quem se senta de costas para as barracas, quando a barca sobe, tem a bela vista do Cemitério. Alguns, depois do estômago cheio com algumas xícaras de chocolate, pacotes de pipocas e pastéis, não resistem ao balanço e: vupt! Batizam o parceiro com uma golfada.
A festa continua. As pessoas passeiam em volta da barraca do leilão onde, aos gritos de dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três, Seu Capitão leiloa e as prendas são arrematadas.
Fim de festa. Cada um vai pra sua casa. Os anjinhos já foram dormir. Os namoradinhos , de mãos dadas, descem a ladeira.
No outro dia, tudo recomeça. E assim vai até o dia 31 de maio. Todos os dias.
Amém!


Palma, 21 de agosto de 2009.


PASSEIO? SOMENTE DE MADRUGADA!


- Meu Deus, o que é aquilo?
- Cruz credo!!!! Deve ser o Lobisomem passeando com a Mula-sem-cabeça. (risos)
- Duas horas da madrugada?!?!?! Nunca vi ninguém por esses lados numa hora dessas.
- Quem será?
- Ah! Agora enxerguei direitinho. É o Seu José passeando com a Dona Maria. Você nunca ouviu contar que ele só passeia com ela de madrugada?
- Já. Mas não pensei que fosse verdade.
- Mas é. De dia , na venda deles lá em cima, enquanto ele trabalha na marcenaria, ela até que pode atender algum freguês. Mas, se ele não estiver em casa, ela só atende o pessoal pela janelinha aberta no meio do portão lateral.
- Mesmo se for algum aluno ou aluna do Ginásio, na hora do recreio?
- Mesmo assim. E a turma às vezes só vai lá pra perturbar, pra ver se ela mostra mais um pedacinho do rosto e a gente só vê mesmo a mão dela entregando a paçoca, a Maria-mole , o pão com salame , o cigarrinho ou os pedaços de doce de coco e de mamão que ficam numa bandeja esmaltada, já meio descascada, em cima da prateleira
Como pode uma pessoa ser tão ciumenta!? Seu Zé morre de ciúmes de Dona Maria . E parece até que ela gosta. Como Dona Maria não sai, sua pele é alva, nem uma manchinha daquelas provocadas pelo sol. Os cabelos sempre presos, nenhuma maquiagem, nem ao menos um batonzinho. Os vestidos que usa sempre muito simples! Tecidos de algodão, nenhum enfeite, as roupas mais folgadas realçam ainda mais as gordurinhas que se acumulam aqui e ali. Baixinha, quando se debruça para atender algum freguês, os grandes peitos se esparramam sobre o balcão. E é assim, sem nenhuma vaidade aparente, que Dona Maria vive naquele sobrado antigo na parte alta da cidade.
Mas, nas noites de Palma, quando o movimento é quase zero, eles passeiam. Ele, como bom cavalheiro, a apóia pelo braço. De braços dados, caminham pelas ruas desertas parecendo um casal de namorados. Aqui e ali, eles param, conversam, comentam. Dona Maria conhece toda a população da cidade, sabe quem é quem, quem trai o marido, quem trai a mulher, quem vai se casar, quem nasceu, e por aí vai .Está por dentro de todos os acontecimentos sociais e “domésticos” da cidade.
- Dona Maria – chama, aos gritos, um aluno do Ginásio Nossa Senhora Aparecida – me dá dois pirulitos.
Dona Maria, arrastando seu chinelo de liga *, desce as escadas do sobrado e, contrariando as ordens de Seu Zé, dá as caras no balcão .Puxa uma conversinha, vende o pirulito. Enquanto recebe o dinheiro e conta o troco, pergunta sobre o casamento da Maria do Rosário, que acontecera no sábado anterior. O aluno conta como foi. Ela estica o assunto, até que ouve o pigarro do Seu Zé. Ela entrega o troco . O aluno se vai. E ela ficou sabendo mais uma novidade.
* chinelo de "liga" ou "tapete" era todo fechado como sapato, podendo ser usado como chinelo, pisando-se seu calcanhar. Sua maleabilidade se devia ao fato de ser feito de linhas de algodão tecidas e tingidas (cores azul, vermelho, verde)
Palma, 21 de agosto de 2009.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

UMA HISTORINHA MUITO OUVIDA NAS NOITES DA MINHA INFÂNCIA

PENA QUE NÃO TEM SOM
PARA ESCUTAR A VOZ DA MARIA
NA HISTORINHA DA FIGUEIRA!
- Mãe, conta uma história pra gente.
- Ah! Agora não.
- Conta sim!!!!
As crianças sempre gostavam de se juntar na cozinha, depois da janta, para ouvir histórias. Edith, a empregada, sempre contava algumas de assombração.Mas naquele dia, ela tinha ido passar um tempinho com o pai dela que estava adoentado. Falou que ele estava constipado e tinha que fazer um chá de guaco com mel pra ele. Só assim ele ia melhorar. A verdade, porém, não era essa. Toda noite ele saía e enchia a cara de cana num boteco perto do cemitério. Lá, ele ficava até tarde e quando o boteco fechava ele não conseguia chegar em casa. Dormia no sereno e a gripe não ia embora nunca. Com a Edith em casa , com certeza os passeios noturnos não aconteceriam e ele poderia melhorar.
Sem a Edith só restava à mãe contar as histórias do lobisomem que atacava perto da Ponte de Tábua, da mulher doida que matou três de susto lá pros lados de Cisneiros, da Juraci, a maluca, que andava com uma faca e batia nas janelas das casas tarde da noite.
- Conta mãe – repetia a criançada.
O cheirinho de lenha verde queimando inundava a cozinha naquela noite de inverno. Com uma vassourinha, um dos meninos empurrava as cinzas que teimavam em cair no chão para dentro do fogão, a água fervia na chaleira. A mãe não tinha mais como se negar a contar a história. Os cinco filhos sentaram-se no chão ao lado da única cadeira que tinha na cozinha.
- Conta, mãe, a da figueira!
- Mas, hoje só conto uma vez.
Olhos e ouvidos atentos. Dona Helena começou, então, a contar:
- “Era uma vez, um homem muito bondoso que ficou viúvo. Chorou muito. Sofreu bastante, mas precisava ser forte porque tinha uma filhinha linda e precisava mostrar que estava feliz pra menina também poder ser feliz. E foram vivendo felizes, até que um dia ele resolveu se casar outra vez para dar uma nova mãe à filhinha. E assim ele fez. Casou-se. A madrasta, perto dele era uma coisa. Longe, só infernizava a vida da pequena Maria. Punha a menina pra varrer a casa todinha, pra lavar toda a roupa da casa, pra fazer a comida, catar arroz, escolher o feijão, descascar batatas, varrer o quintal, dar milho pras galinhas, recolher os ovos dos ninhos, rachar lenha, regar a horta. Mas tudo isso ela fazia longe do marido e proibia a menina de contar. Se contasse, ia para o castigo, ajoelhada em cima de caroço de milho ou, então, no terreiro, olhando pro sol. Isso quando não deixava ela sem comer.
Um dia, a madrasta falou;
- Olha, Maria, eu vou sair de casa, agora, pra ir na casa da comadre Marilda. Você vai ficar lá no quintal pra tomar conta da figueira que tá carregadinha e eu não quero que os passarinhos comam nenhum figo. Já contei todos. Se faltar algum quando eu voltar, você vai ver comigo.
Maria foi, então, para o quintal e sentou-se debaixo da figueira com uma varinha na mão para espantar qualquer passarinho que por lá pousasse. Mas, como estava muito cansada, adormeceu. Pra que? Os passarinhos vieram e comeram quase todos os figos. Quando a madrasta chegou e viu aquilo, não pensou duas vezes. Mandou a Maria furar um buraco bem fundo debaixo da sombra da figueira. Quando Maria terminou, a madrasta enterrou a menina viva naquele buraco. Jogou ela lá dentro e cobriu com terra. Quando o marido chegou e perguntou pela menina, ela disse que Maria tinha saído e não voltou.
Os dias foram passando e Maria não voltava. O pai perguntou pra todo mundo da cidade e ninguém sabia da Maria.
O tempo correu e lá debaixo da figueira, o mato começou a crescer. Mas não era mato, não. Era o cabelinho da Maria que crescia lá debaixo da terra e saía no chão, igual graminha. O pai, então, chamou um homem pra limpar o quintal pra ele. Quando o homem deu a primeira enxadada no capim que nasceu debaixo da figueira, ele ouviu uma musiquinha , cantada assim:

- Capineiro do meu pai,
não me corte meu cabelo
pelos figos da figueira
a madrasta me enterrou.

Ele olhou prum lado, olhou pro outro e não viu nada. E deu outra enxadada. E ouviu, outra vez, a vozinha vinda láááá do fundo.

- Capineiro do meu pai
não me corte meu cabelo
pelos figos da figueira
a madrasta me enterrou.

E cada vez que ele batia a enxada no chão pra cortar o capim, ele escutava a musiquinha. Até que ele resolveu cavoucar em volta do capim, bem fundo. E foi cavoucando, cavoucando, cavoucando, até que viu a menina agachadinha lá no fundo do buraco, chorando, chorando, tadinha, e cantando com a voz bem fraquinha a música que o capineiro ouviu a cada vez que dava uma enxadada. Ele tirou a menina do buraco, chamou o pai dela e a Maria contou tudinho como tinha acontecido.
O pai, então, foi lá dentro de casa, pegou a madrasta, amarrou ela pelos cabelos no rabo de um burro bravo e chicoteou o burro que saiu em disparada pelas ruas da cidade, arrastando aquela malvada. O burro sumiu pela estrada, levando a madrasta.
O pai e a menina, agora felizes, viveram,assim, felizes para sempre.”

Lágrimas enxugadas com as costas das mãos e os olhinhos arregalados, eram o sinal de que a história de Maria, por mais repetida que fosse, nunca deixava de ter seu encanto.
- Bença, mãe.
- Deus te abençoe.
- Dorme com Deus e Nossa Senhora.
- Amém. A senhora, também.
- Não se esqueçam de rezar.
- Tá.
E todos foram dormir

(Já contei muitas vezes, também, para minhas filhas Laila, Clarice, Lívia e Marina)
Palma, 20 de agosto de 2009

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA






O apito da Maria-Fumaça anuncia sua chegada na estação. A molecada sobe correndo pela rua Dr. Victor Ferreira para ver o trem . Na plataforma, Dona Julieta anuncia:
- Olha o café fresquinho, biscoito de polvilho torradinho. Vamos, freguês, aproveite.
Seu Barbosa vende, no guichê, os últimos bilhetes para o noturno que sobe em direção a Manhumirim.
O maquinista puxa a corda e o apito toca mais uma vez. A fumaça sai pela chaminé mas, como o ar está meio parado, ela não sobe e chega até a sufocar os namorados que passeiam pela calçada de lajotas de pedra.
Carregadores retiram dos vagões de cargas os fardos, pacotes e caixas que vieram despachados pelas fábricas e atacadista do Rio de Janeiro. Enchem, aos poucos, o depósito da estação.Os passageiros vindos do Rio, Três Rios, Além Paraíba, Porto Novo, Recreio, Angaturama e Cisneiros descem e os de Palma, com as malas nas mãos, sobem no trem e se acomodam. Alguns já fecham as janelas com receio das faíscas que, com certeza, já começarão a aparecer na curva da Congelação. As crianças se ajeitam nas poltronas das janelas para verem, com mais atenção e medo, o trem passar pelo túnel, já na subida para Banco Verde.
Seu Barbosa bate o sino. É hora da partida. Um apito. Algumas crianças se escondem nos degraus dos últimos vagões para uma carona rápida . Seu Barbosa, atento, não percebe os moleques. O trem dá a partida. Quando o último vagão passa pela casa do agente, como bananas despencadas, começam pular moleques pela beirada da linha.
As luzes se apagam.
O próximo trem, só amanhã bem cedo.
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Na igreja, um coroinha sobe correndo os degraus que levam à torre para bater as badaladas do “angelus”. São seis horas da manhã. As beatas já voltam para casa, depois da comunhão das cinco e meia.
Em pouco tempo começa o movimento. Na estação, os ferroviários se deslocam para a manutenção e conservação dos trilhos. O grande galpão em frente à estação se enche rapidamente de carpinteiros, ferreiros e marceneiros. Passa um trole com três homens. O escritório é aberto. Seu Miranda conta mais uma das suas. Os outros riem, comentam e sabem que daqui a pouco outra história vai sair da boca daquele homem de cabelos brancos, barriga proeminente, camisa de linho bem engomada e calça segura por suspensórios de couro e que adora contar um caso..
Dona Julieta, ainda em sua casa, côa o café do dia, e o coloca em bules que deixa sobre a chapa do fogão a lenha. Pede à Glorinha que encomende ao Gibson e à Dona Isabel os biscoitos e pães. Dionísia chega, também cedo, para torrar o café no torrador a carvão. No quarador já estão a roupas brancas para alvejar.
A cidade já acordou. A carroça do leiteiro já circula pelas ruas empoeiradas.
- Leiteiro!!!!! Leiteiro!!!!!!
Dona Maria manda Conceição pegar a lata de gordura de coco, com medida de dois litros, e comprar o leite do Timtim.
Seu Sebastião e Seu Alcides já passam pela rua do comércio com suas carroças e combinam buscar as cargas que o trem deixou na noite anterior. Não podem se esquecer das latas com filmes que o Cine Brasil vai passar no fim-de-semana.
Em frente ao prédio onde funciona o correio, bem ao lado do Bar Rio Minas, do Seu Duarte, um cartaz já anuncia “Manina, a moça sem véu”, com Brigitte Bardot. Os homens da cidade em “polvorosa”, as mulheres enciumadas, os meninos, já pré-adolescentes, com caras feias porque a censura não lhes permite assistir a esta sessão de cinema.
Arnaud já abriu a banca de jornais: O Correio da Manhã e O Jornal ainda não chegaram. Mas a Revista do Rádio, O Cruzeiro e A Modinha Popular já estão penduradas com prendedores de roupas e são disputados pelos leitores ávidos por notícias e fuxicos de artistas . A criançada já procura pelos gibis do Cavaleiro Negro, Tarzan, Fantasma, Luluzinha, Bolinha, Pimentinha e muitos outros títulos. Livrinhos de bolso com histórias de “Giselle. A espiã nua que abalou Paris” e de faroeste também são muito procurados.
No Bar do Bené, logo em frente, Marcolino vende seus bilhetes de loteria para os senhores que vêm tomar um cafezinho com o pessoal do Banco Ribeiro Junqueira, que espera a hora de abrir a agência. Na cozinha, Bené retira do prego na parede, uma frigideira preta e engordurada e se prepara para a encomenda do primeiro bife do dia. No balcão, um menino grita:
- Benéééé’!!!! Me dá um picolé de groselha. Mas num serve redondo, não!
Mulher não entra no bar. Do lado de fora, Martinha faz sinal para Hélcio, que sai para falar com ela.
Hélcio marca ensaio de mais uma peça de teatro, que breve será encenada no palco do Cine Brasil e combina alguma coisa sobre o baile que acontecerá no clube da Sociedade Musical Santa Cecília no sábado. Será um grande baile com o Conjunto Agripet , formado por músicos das famílias Agrícola e Petrillo.
O dia corre. Nas portas da Casa Azul, do Seu Elias Abdalla, Nabih, o caixeiro, já expôs, com belas dobraduras, os novos tecidos que Seu Sebastião trouxe da Estação da Leopoldina. Ainda dá tempo de se comprar um belo corte e pedir pra Dona Helena, Dona Célia ou Dona Sahda fazer um vestido para o baile. Mas tem que ser rápido. O baile já será no dia seguinte.
Na venda do Seu Maninho, o Zé, também “do Maninho”, limpa o balcão e ajeita os sacos de arroz, feijão, açúcar e farinha, arruma os doces que acabaram de chegar na bandeja dentro da pequena vitrine, pendura chapéus de palha na porta e arruma os pesos da balança para o trabalho do dia.
Da Rua do Cinema dá para ouvir os gritos das crianças que brincam no recreio do Grupo Escolar Artur Bernardes.
E o dia segue em frente.
- “Demá Caçapa”. Grita um moleque. Demá corre atrás dele.Outros meninos gritam e correm também.
Por um caminho feito pelo meio do mato, uma turma segue para o campo de futebol da Avenida Governador Valadares , para mais uma pelada.
Cristina promete ir na casa da Maria José para brincar de aula. Na casa do Seu Oliveiros, as crianças penduram cordas nas árvores para brincadeira de trapézio e prendem um cabrito num cercadinho do fundo do quintal. Está montado o circo para o espetáculo que vai ser apresentado. O ingresso é pago com um palitinho de fósforo.
Frutas roubadas da Faride e da Emília. Pique-bandeira na Rua do Dó. Parte-queijo no jardim. Passeios no pasto do Ary. Fugidas até a Ponte de Tábua. Histórias de fantasmas inventadas para fazer medo nos mais novos. Brincadeiras na palha de arroz das máquinas do Nenê Alvim e do Seu Antônio Dingo.
Mas esta Palma não é apenas um “retrato na parede”como diz o poeta. É a minha memória viva que me dá tanto prazer partilhar numa conversa recheada de risos, às vezes lágrimas, mas muita alegria e muito riso.




Fotos:
- Baile no Salão da Sociedade Musical Santa Cecília (clube da ladeira), na década de 1950. No palco,o conjunto AGRIPET.
- Estação da Estrada de Ferro Leopoldina







PUXANDO PELA MEMÓRIA - Uma historinha contada por Dona Almerinda

Dona Almerinda começa cedo a função. Café coado, angu mexido, panelas no fogo e a chaminé fumaçando. Dona Maria do Seu Elias mandou um monte de sacos de algodão cru para alvejar.
Essa introdução é só para contar o que Dona Almerinda revelou e que merece registro.
Naquele ano da década de 1950 ou 1960 – isso nem importa – ainda não existia a quantidade de sabões em pó de hoje. Alvejantes não eram tão comuns. Máquina de lavar era um luxo!! Na roça, então, nem pensar. Nas casas da Congelação nem água encanada tinha. Mesmo assim ela, Dona Almerinda, aceitava esse tipo de trabalho..
Mas, como é que se alvejava saco de algodão cru ?
É a própria Dona Almerinda quem dá a receita:
- Olha, meu filho. Pra alvejar é um trabalho bem grande. E demora um tempinho bom! Primeiro a gente pega, no curral e no pasto, bosta de boi bem fresquinha. Não pode ser bosta seca, não. Aí, a gente põe as bostas na bacia e mistura com água. Mexe com as mãos mesmo até ficar bem misturadinho. Faz tipo um mingau. Depois, coloca os panos dentro daquele mingau por mais ou menos uns dois dias. Aí, a gente tira. Esfrega. Esfrega. Esfrega. Esfrega muito. Esfrega bem. Bate bem na pedra. Se precisar repete tudo. Depois põe no quarador e deixa pegar o sol e depois o sereninho da noite. No dia seguinte a gente bate de novo. Deixa de molho na água. Depois, vai trocando a água. Bate de novo. Põe no quarador. Pegando sol, pegando o sereninho da noite. E vai assim até ficar branquinho como um cristal. É só,
Aqui cabe mais uma pergunta: É SÓ????
Grande Dona Almerinda do Seu Vicente!

Palma, 19 de agosto de 2009.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

1940
Família de Francisco de Paula Pinto
(da esquerda para a direita)
atrás - Wanir e Fia (com Maria Aparecida no colo), Nenen Pinto e Quininha,
Libana e Quinquinho,Tinana (com Jurema no colo) e Antonio Camilo,
Oliveiros, Josélia e Lourdes.
Sentados: Marieta, Chiquinho e Zelito.
As crianças Dalva e Paulo

OS EMBALOS DE SÁBADO EM PALMA



Sete horas da noite.
O sábado começa a ficar movimentado na Palma de 1967.
Em frente às “vendas” do Seu Miguel e do Seu Maninho, as charretes já estão “estacionadas”, Nesses locais o cheirinho do xixi dos cavalos começa a arder os olhos e o nariz de quem passa em direção à Rua do Cinema.
Joaquim Fiscal cumpre mais uma etapa da sua rotina: pega duas placas e as coloca nas duas extremidades da rua, nas esquinas da João Pinheiro e da Bias Fortes. Nas placas lê-se:”PROIBIDO O TRÁFEGO DE VEÍCULOS E ANIMAIS”.
A Rua do Cinema , aos poucos, vai se enchendo de gente. Seu Antônio Agrícola programou um filmaço para aquele sábado. As emissoras de rádio, tanto a Tupi, como a Nacional e a Rádio Globo tocam Elvis Presley quase o dia inteiro. Então, quando o cartaz de "No paraíso do Havaí" foi colocado na rua, todo mundo começou a combinar o cineminha do fim-de-semana.
Nas janelas da casa do gerente do banco, os casais de namorados começaram a se encostar. Nas calçadas os namorados mais firmes passeiam pra lá e pra cá.
Pelo meio da rua, as meninas, as mocinhas e as balzaquianas também passeiam, de uma ponta a outra da rua. Flertes. Olhares. Despistes. No ar, os cheiros de Lancaster, Toque de Amor, Vitess, Promessa, Madeiras do Oriente, Tabu se misturam.
Os rapazolas fazem poses , tendo nas mãos cigarros beverly, continental sem filtro e kent .
As meninas mascam chicletes de bola ping pong.
Por onde passam, fica um cheirinho de laquê .
Mini-saias estão começando a ser usadas e as calças-esporte fazem a cabeça das moçoilas. Sutians com bojo de espuma deixam os corpos mais sensuais.
De vez em quando alguns pais dão uma volta pela rua para a vigilância que, quase sempre, é burlada pela turminha que passeia e espera a hora do filme começar.
Sete e meia. Toca a sirene do cinema. Olhares aqui e acolá.
O irmãozinho de uma garota chega perto de um rapazinho e diz que a garota vai esperar por ele na quinta cadeira do lado direito do cinema. Como recompensa, ganha um pacote de balas de goma.
Continua o passeio.
Uma garota chega perto da amiga e pergunta:
- O Beto mandou perguntar se pode falar com você.
- Diz pra ele que sim.
( E era assim que tudo começava.)
Cinco para as oito. Toca a sirene. As lâmpadas do lado de fora do cinema começam a piscar. Está na hora. Todos correm para a bilheteria. Seu Antônio vende os ingressos. Garibalde já toma seu lugar para começar a exibição da fita. Difícil achar um lugar. Chegou a hora. Mais uma vez a sirene. Apagam-se as luzes do lado de fora. Os ventiladores são ligados. Quando começa o jornal da Atlântida o facho de luz que sai de trás é realçado pela fumaça dos cigarros que são fumados na parte de trás do cinema. Gritos. Berros. Elvis Presley aparece na tela.
A Rua do Cinema está vazia.
Quem não foi ao cinema foi para casa.
Os rapazes foram se vestir como Elvis ou como Roberto Carlos e as meninas foram se trocar e fazer novos penteados, com bastante laquê ou foram passar o cabelo a ferro ou fazer uma touca rapidinha para dar aquela alisadiinha.
Outras gotas de Lancaster, Vitess, Toque de Amor.
E estava todo mundo pronto pra subir a ladeira e dançar a noite toda no Clube Santa Cecília, num super-baile embalado pelo som do The Snakes.


Palma, 18 de agosto de 2009.


BOAS IMAGENS, GRANDES LEMBRANÇAS

Serra da Pedra Negra numa manhã de inverno de 2009.

Ponte construída em 1930,
na Rua Teodorico Titoneli, no Distrito de Cisneiros

Placa afixada na ponte da Rua Teodorico Titoneli
(conhecida como Niterói)
no Distrito de Cisneiros.
Inscrição na placa:
MANDADA CONSTRUIR
PELO
INSTITUTO MINEIRO DE DEFESA DO CAFÉ
SENDO PRESIDENTE DO ESTADO
DR. ANTONIO CARLOS RIBEIRO DE ANDRADA
1930



DEMÁ
Ademar de Oliveira
Figura popular em Palma .
"Demá Biludo", "Demá Caçapa"
eram nomes com que a criançada
de mais de 20 anos atrás, gritava para mexer com ele.
Ele, por sua vez, sabia que era por brincadeira e corria
atrás da molecada para fazer medo e para
brincar também.


BILHETE DA LOTERIA FEDERAL
1975
A foto que ilustra o bilhete é do
Armazém da CASEMG
(Companhia de Armazéns e Silos do Estado de Minas Gerais)
Cisneiros - Palma - Minas Gerais





FOTOS - NOSSA MEMÓRIA, NOSSA HISTÓRIA

Colégio Imaculada Conceição
Dirigido por Dona Bibi.
Turma de 1928
Funcionava no primeiro casarão da ladeira
(atual Rua José de Paula Freitas)
primeiro à esquerda, na subida.
Da esquerda para a direita:
1ª fila: Zizinho, Biú, Heglê, Wander, José Freitas, Gibson, Adilson Agrícola, Adib, Admar Agrícola, Milton Cavalcante, ..., Marina Barros, Ieda, Mariinha Amaral, Astréa, Percy, ..., Isa(jubinha), Armia, Odette, Áurea Freitas, Elza, Angelina.
Fila central:Hebe Gomes,..., Eunice Amaral,Neuza Amaral, Maria Torres, Alaíde Oliveira, Dona Guiomar,Dona Alzira Carvalho Santos, Professor Humberto Gomes, Maria Aarão, Dona Bibi, ..., Delfina,..., ..., ..., Célia Amaral.
3ª fila: Sebastião de Paula, Waldir Freitas, Peri, Cici Barbosa, Waldir Freitas, Antonio Agrícola, Wagner, Chaquib, Corinto, Petrônio, Zequinha, Paulo Amaral, Georgina, Maria Freitas, Carmelita, Cecília, Leontina, Juracy, Hilda.
Atrás (próximo à porta): Murilo Freitas,...

Rua Bias Fortes
década de 1940

Grupo de teatro de Dona Dinorah Amaral
Década de 1940
Algunas dos integrantes:

em pé: Cilinha Nogueira, Dinorah, Maria de Lourdes, Anália,
Hélcio, Áurea Freitas, Ruth, Nilce, Josélia Pereira...
Também faziam parte: Enyr Freitas (primeira sentada)
Célia, Vitória Maron, (primeiras à esquerdaajoelhadas)
a última, em pé, à direita: Aparecida Duarte
dentre outras que ainda não consegui identificar.


Largo Doutor Seixas - 1942
(atual Praça Getúlio Vargas)

Casarão na Praça da Matriz
(na época, 1950, era residência do médico Dr. Aristides)